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Eleição, consciência e voto

A escolha popular, seus motivos e o esclarecimento necessário

Ainda traumatizado pela eleição de 2018 e, convivendo com o estrago provocado nos quatro anos com essa turma no poder, é impossível não se preocupar com a eleição de outubro.

Em 2018, envolvidos com a enganação jurídico-política de um Congresso e Judiciário corrompidos – quando as verdades criadas foram prontamente apropriadas pelos setores conservadores e oportunistas da sociedade -, a população foi conduzida a um desastre social que fez o povo inimigo de si próprio, chegando a se tornar comum, em manifestações da direita conservadora e inocentes envolvidos, o grito contra as liberdades democráticas ou pelo retorno à ditadura militar e também pela extinção de instituições garantidoras da democracia.

Hoje, mesmo tendo ficado claro o golpe contra a Dilma, a ilegalidade do impedimento, pela prisão ilegal, da candidatura do Lula, e a queda da qualidade de vida do brasileiro, ainda restam quase 30% do eleitorado embarcado nessa canoa furada.

Alguns setores, que em 2018 foram fundamentais à eleição do atual governo, já desembarcaram. Porém, a parcela mais simplória da sociedade, subserviente às religiões fundamentalistas/mercantilistas, ainda forma sua principal base de apoio. Essas religiões se fazem “guias” do povo humilde, inclusive para o direcionamento do voto, se aproveitando para galgar o poder e as enormes vantagens econômicas que ele lhes proporciona, a exemplo do comportamento da bancada evangélica e os recentes escândalos de corrupção e favorecimento envolvendo pastores e a distribuição de verbas federais.

Há também uma casta de pessoas de apoio a esse governo que antes eram “ilustres desconhecidos”, e, como “papagaios de piratas” se inseriram na cena, aproveitando a “onda” do discurso de ódio, para galgar o poder. Estes últimos, frente proximidade do final do mandato e a improvável reeleição, estão em pânico, apelando de todas as formas para se manterem em alta, no agora já bem reduzido eleitorado.

Diante de tudo isso e com a proximidade da eleição, é preciso uma preocupação maior sobre a forma e as estratégias de enfrentamento e revelação das mentiras deslavadas, hoje apelidadas de fake news, que muito provavelmente deverão ser construídas e direcionadas ao e pelo grosso do eleitorado deles.

É preciso educar para o reconhecimento de falácias de todos os tipos, em especial, ad hominem, apelo à autoridade, falsa causalidade, ambiguidade, inversão do ônus da prova e todas as outras possibilidades de construção de discurso enganoso. Criar instrumentos populares de confrontação de discursos, promover discussões abertas sobre candidaturas e relações de interesses maiores, como o caso da relação de uma política de armamento da população e os interesses econômicos junto à indústria bélica, além de muitas outras atitudes que retornem à população ao “Esclarecimento” do iluminismo kantiano. Abortando a necessidade de um “salvador” para sua vida.

Por fim, preciso lembrar que o momento que vivemos é de uma polarização já construída, com as raízes citadas aqui, sendo necessário, portanto, um envolvimento, como diria Paulo Freire, amoroso no processo de educação a ser aplicado no contingente de enganados que ainda engrossa as fileiras desses aproveitadores da inocência/ignorância.

Esse processo não tem tempo nem lugar, deve ocorrer de forma contínua e o mais espalhado possível, principalmente nas escolas, mas também no cotidiano das pessoas, em família, no lazer, etc., por aqueles que conseguem perceber o processo de indução à alienação para o cultivo da necessidade de um “salvador da pátria”.

Everaldo Barreto é professor de Filosofia

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