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Muito choro e pouca vela

O lixo de uns pode ser o luxo de outros

Por mais que adiasse e protelasse, chegou a hora do adeus. Já há algum tempo a sentença de morte súbita e inapelável estava decretada, mas temos essa tendência de nos agarrarmos ao que foi bom, mas deixou de ser. As perdas, mesmo antecipadas, são sempre dolorosas. Foi um relacionamento constante e duradouro: mais de 20 anos juntos. Perdi mais uma batalha contra a modernidade.

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Ai dos vencidos, disse o general que perdeu a guerra. Ou disse o general vencedor? Difícil imaginar que no final da sanguinolenta batalha houvesse alguém preocupado em criar frases de efeito para os futuros colecionadores de frases de efeito. Ao chegar ao Egito Napoleão Bonaparte disse aos seus 35 mil soldados: Do alto dessas pirâmides, quarenta séculos nos contemplam. As pirâmides continuam lá, contemplando nossa vã filosofia – cadê o Napoleão? Virou dinamite.

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Assim, sem mais delongas, sem velas, mas segurando o choro, recolho pela casa os sete braços da destituída deusa indiana – a base e as seis extensões do inútil telefone fixo – grudado no chão, dizem os americanos. Como aceitar que um aparelho outrora considerado de alta tecnologia, essencial e imprescindível às nossas tarefas diárias, que salvou vidas e espalhou notícias, vai parar na lata de lixo? Talvez haja outras opções…

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Levo a parafernália para o GoodWill. Que, como todos os bons desejos, recolhe o que já não cabe, não serve, não usa, não tem lugar, caiu de moda, ou deixou de ser útil. O lixo de uns talvez seja o luxo de outros. Os contêineres ficam eternamente esperando nos estacionamentos dos shoppings e supermercados. A gentil atendente deixa de ser gentil quando vê o que trago – Sorry, não aceitamos mais telefones fixos. 

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Não adianta fugir, a tecnologia é mais rápida e tem pressa. Dos 8 milhões de assinantes do The New York Times, mais de 90% são digitais. A notícia também tem pressa. Oito milhões? Não falam que ninguém mais lê jornal?

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