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Que pressa é essa?

Devagar se vai ao longe, e mesmo com tantas perdas e danos, o oeste foi conquistado

O tempo voa, dizem os apressados, mas qualquer viagenzinha dura horas – mesmo de avião. No tempo das carruagens, um trajeto de meia milha durava meio mês. Ou meio ano. Ou muitos anos. Graças aos filmes hollywoodianos, estamos bem familiarizados com a chamada “conquista do oeste”, feita em vagões cobertos com lonas e puxados por garbosos cavalos. Certo? Fake news: burros e mulas eram os mais usados na grande aventura, por serem mais resistentes, mais obedientes, e terem menos chances de serem roubados.

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As jornadas eram feitas a pé. Pouca gente ia dentro dos vagões, não apenas porque precisavam de todo o espaço para carregar tudo que precisariam pelo caminho e no novo lar, mas também porque, não tendo suspensão, os vagões andavam aos solavancos nas trilhas e estradas acidentadas. Como também não tinham rédeas, os cocheiros andavam ao lado dos burros. Imagina-se o tempo gasto com toda a caravana parada, esperando até achar em qual sacola eu guardei o remédio para enjoo. As viagens eram longas e arriscadas, principalmente pelos ataques de índios mal-humorados. Certo?

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Outra notícia falsa: acidentes e doenças eram as causas mais frequentes de mortes. A maioria dos diários deixados pelos aventureiros registrava casos de pessoas feridas ou mortas por acidentes com armas de fogo, ataques de animais selvagens e afogamentos. Ou acidentes com os próprios vagões, que viravam com facilidade, ou crianças ‘atropeladas’ pelas pesadas rodas. As doenças ocorriam com frequência, pela falta ou escassez de água potável.

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Ou falta de higiene, pois banhos e lavagens eram limitados. Como sempre viajavam em grandes grupos, os resíduos humanos e animais ficavam próximos das fontes e rios. A água contaminada disseminava a cólera. Entre as crianças, difteria, sarampo e varíola. Exaustão e má nutrição provocavam tifo, disenteria, os mosquitos contribuíram com a malária. Tal e qual ocorreu nas aventuras marítimas alguns séculos antes, o escorbuto grassava entre os viajantes, por falta de vitamina C.

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Os vagões estacionados em círculos não eram para proteger de ataques indígenas, mas para prender o gado que levavam. Os poucos ataques de índios ocorriam com os vagões em fila. Pelo menos nas primeiras investidas na conquista do oeste selvagem, os índios ajudaram mais do que atrapalharam os aventureiros. Os atritos com os donos da terra vieram bem mais tarde, geralmente provocados por ignorância ou arrogância dos invasores – toda ofensa provocava represálias.

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Devagar se vai ao longe, e mesmo com tantas perdas e danos, o oeste foi conquistado. Hoje reclamamos no ônibus porque o velhinho de bengala demora a escalar os dois degraus da entrada. Da obrigatoriedade de chegar ao aeroporto com duas horas de antecedência. Não sabem os Ícaros modernos que tempo é dinheiro? Temos pressa, vamos em frente que atrás vem gente. Vamos atropelando uns aos outros, esquecendo que a terra é redonda – não tem começo nem fim. Na pressa de contar o tempo, a gente passa e ele fica.

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