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A Onda da Vida tem como cenário principal as praias de Regência

 
Sentado na cama de seu apartamento no Rio de Janeiro, José Augusto Muleta escreveu todo o roteiro de A Onda da Vida em uma noite. Foram 80 páginas, desde a primeira cena, passando por todos os diálogos até a última linha, de uma vez só. Ele ainda não tinha a pretensão de filmar, mas com a sua ideia no papel, começou a mostrar seu roteiro para diversas pessoas em busca de críticas e parceiros. 
 
A Onda da Vida é a história de três surfistas, Caio (Caio Vaz), Tiago (Guilherme Tripa) e Joel (Omar Docena), que saem de carro do Rio de Janeiro com destino a Itacaré, no litoral sul da Bahia, em uma surf trip. No caminho, o carro quebra e eles têm que interromper a viagem até que ele seja consertado. Durante essa espera, eles descobrem a Vila de Regência, um paraíso ecológico com ondas perfeitas.
 
Antes mesmo que essa história começasse a se desenhar na sua cabeça, Muleta já tinha uma única certeza: queria fazer um filme que fugisse da estética de documentário e de videoclip que geralmente estão associadas ao surf. “Existe uma diferença entre o filme de surf e o filme de surfista. Meu filme é um filme de surfista que, antes de tudo é um ser humano, que ama e odeia. Essa humanidade está presente em A Onda da Vida”, declara o diretor. 
 
José Augusto admite que existe muita produção audiovisual de surf, mas sua vontade era fazer algo diferente. Quando se sentou para escrever o roteiro, ele procurou vários caminhos até chegar na história definitiva. “A minha preocupação era mostrar os meninos surfando de verdade, mas ao mesmo tempo fazer uma ficção com cara de cinema. Foi então que tive a ideia de contar uma bela história de amor entre um dos meninos e uma garota de Regência. E essa história vai crescendo neles só no olhar e em pequenos detalhes e situações”, conta Muleta.  
 
Essa paixão pelo surf de José Augusto começou ainda na pré-adolescência. Nascido em Minas Gerais, logo que se mudou para o Espírito Santo sentiu muita dificuldade em se enturmar e acabou encontrando no surf sua válvula de escape para aplacar a solidão. “Em comparação com a cidade em que eu nasci em Minas, Vitória era uma megacidade, então a adaptação foi muito difícil. Na época também existia muito preconceito em relação a mineiros. O surf foi o meu primeiro e único amigo nesse período”, lembra. 
 
Seu pai, vendo o interesse dos filhos pelo surf, começou a incentivar a prática do esporte. Todo o final de semana, ele reunia a família e juntos exploravam as praias do Espírito Santo. Em uma dessas viagens, José Augusto conheceu Regência e o vilarejo despertou o seu afeto imediato. “A vila é muito parecida com a minha cidade natal, por isso, a cidadezinha se tornou o meu refúgio”, conta Muleta. 
 
Todo o amor de José Augusto pelo surf e por Regência transparece no filme, que retrata o local com muita poesia. Em A Onda da Vida, o vilarejo aparece como um Oásis que os três protagonistas encontram por acaso no meio da estrada. 
 
“Enquanto o Rio de Janeiro é mostrado com toda a sua beleza e com imagens áreas, noturnas, as cenas em regências são ao contrário, é uma câmera mais contemplativa, mais próxima dos personagens. O mesmo acontece com os meninos, que deixam todo o luxo da cidade grande para aprenderem a viver acampados no quintal de um conhecido no vilarejo. Esse contraste deixou a vila mais bucólica ainda e a simplicidade se tornou algo afetivo”, explica o diretor. 
 
 
José Augusto é formado em Rádio e TV, mas sempre se interessou por produção audiovisual. Começou a participar de sets de filmagens, aprendeu a mexer na câmera, passou a entender um pouco de fotografia e fez curso de teatro para ter a experiência de dirigir atores. O seu primeiro curta metragem foi A banda, com Margareth Galvão e Ednardo Pinheiro. Em paralelo a esses trabalhos audiovisuais, José Augusto sempre filmava o surf em Regência, mas dirigir seu próprio longa-metragem estava se tornando um sonho distante. 
 
Durante quatro anos, ele trabalhou como assistente de direção de Felipe Joffily em E Aí, Comeu? (2012), Muita Calma Nessa Hora (2010), e em duas temporadas de Cilada no canal Multishow. Essas oportunidades o ajudaram, depois de muita luta, a realizar seu sonho de dirigir seu primeiro longa. No sets de filmagens, José Augusto fez algumas amizades que depois se tornaram parcerias como o produtor Rike Nogueira, que também produziu o Muita Calma Nessa Hora. 
 
“Guilherme Tripa foi o primeiro a se envolver com o projeto, assim que leu o roteiro ele se apaixonou e já colocou pilha para filmar. Ele que mostrou o roteiro para o Omar, que também já falou que iria participar. O último a integrar o trio foi o caçula Caio Vaz. Antes de buscar qualquer patrocínio, perguntei se eles topavam encarar as filmagens mesmo sem dinheiro, e os três aceitaram”, conta.
 
Felizmente, o diretor estreante conseguiu o patrocínio da UOT de R$ 25 mil e filmou todas as cenas em Regência. Depois foram surgindo outros patrocínios, inclusive do governo do Estado, que foram usados para filmar as cenas de surf e as do Rio de Janeiro e também para a finalização, a etapa mais cara na produção de um longa-metragem. No total, o orçamento ficou em R$ 135 mil.
 
 
Mesmo com toda essa experiência como assistente de direção, José Augusto não estava preparado para a vivência com a equipe técnica e os atores, que ficaram morando juntos durante 30 dias em Regência. “Cinema é guerra. É acordar cedo todo o dia e passar o dia inteiro gravando. A sua vida se resume ao filme”, declara. 
 
Mas todo o esforço valeu à pena. Apesar do baixo orçamento, Muleta conseguiu produzir sua obra exatamente como queria. “O nosso filme não foi um acidente, nós trabalhamos muito para ficar do jeito que está, o que surpreende é nós termos atingido essa qualidade com tão pouco dinheiro”, diz. Orgulhoso do seu trabalho, o diretor acredita que conseguiu fazer um retrato fiel das praias e da vida em Regência, “até a festa do Caboclo Bernardo eu recriei para mostrar a cultura do local”, completa. 
 

 
A Onda da Vida já teve uma sessão de pré-estreia no Rio de Janeiro, no cinema Leblon, e também já foi exibido em Regência. José Augusto se mostra muito entusiasmado com o retorno que vem recebendo. “Depois de pronto, o filme está seguindo o seu caminho sozinho”, afirma, animado. 
 
No dia 3 de julho haverá o lançamento nacional de A Onda da Vida. O filme entra no circuito comercial no Cinemark, em Vitória, no Cine Kinoplex, em Vila Velha, no Cinercla Montserrat, na Serra, e no Cinercla Pátio, em Linhares. 

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