Análise ???Amor Profundo???
Numa sociedade engessada pelos modelos sociais, muitas vezes se torna difícil libertar-se destas amarras e buscar por caminhos mais emocionantes.
Hester (Rachel Weisz) liga o gás e espera seu fim. Mulher de um famoso juiz, vê seu casamento terminar após ser descoberta no adultério. Passa a viver com seu amante, um aviador que ainda vive as expectativas do pós-guerra. Esta relação entretanto pode ser muito mais excitante do que ela mesmo espera.
A capital inglesa em 1950 ainda se recuperava da guerra e guardava consigo a memória de dias infelizes, mas ainda assim, era o berço da revolução industrial, exaltando a modernidade em cada esquina.
Filha desta sociedade, Hester é uma figura à frente de seu tempo, com novas ideias que lhe dificultam se acostumar aos ritos de seu grupo social. Encontra em seu amante a possibilidade de fugir de todos estes entraves.
A sobriedade da sociedade inglesa é explorada na fotografia e na direção de arte, sobretudo na omissão de cores, e na utilização de uma paleta em tons marrons, que amplia uma visão nostálgica pelo passado.
Desse modo o perambular da protagonista amplia a sensação de deslocamento com seu tempo, sempre figurando em espaços vazios e escuros, esquecidos e parados num tempo próprio, psicológico.
O excesso de floreios e a sociabilidade exacerbada a princípio criam um ar teatralizado do filme, nunca deixando cair as máscaras, o que torna o filme muito frio e alheio aos costumes contemporâneos.
Pouco a pouco, entretanto, as mudanças se tornam mais visíveis de acordo com as escolhas de Hester. As expressões antiquadas nos diálogos ampliam esse ar teatral, alargando ainda mais a distância com o presente.
Essa distância se potencializa pela busca incessante pelo atual, requerendo da protagonista uma mudança constante, mas que a sociedade e sua época não permitem, nem mesmo o diretor, que com planos fixos e centralizados vai se afastando da personagem, deixando-a a mercê da própria história, sem um lugar, seja em outras casas, em outros amores, restando a Hester somente a morte.
Residindo entre dois pólos opostos: um casamento sólido com um aristocrata rico mas inseguro; e do outro um viajante pragmático; Hester se isola de tudo, sendo refletida na própria imagem sem ousadia do filme que abusa de fades e efeitos de sonho, com imagens nebulosas, usados pra tentar deixar mais claro a distinção entre o passado glorioso e o presente, que poderia ser mais sutil.
As belas composições da imagem baseadas em ícones da história da arte reforçam a estética aristocrática, mas com a pontos de fuga sempre fora do quadro, aludindo a Hopper e suas janelas vazias e solitárias, e em claro escuros, típicos do barroco, que ampliam a dramaticidade e recolocam a protagonista em busca de um lugar no mundo.
Serviço
Amor Profundo (The Deep Blue Sea, EUA/Reino Unido, 2011, 98 minutos, 14 anos)
Cine Jardins - Shopping Jardins: Sala 1. 21h10.
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