Todas as seitas tendem a buscar uma resposta para a confusão a que somos submetidos dia a dia. Talvez muito disso venha do fato de que muitas verdades impostas pelo mundo funcionam como uma seita da normalidade, uma espécie de religião pragmática e até mesmo tecnocrata, onde a racionalidade se baseia num estado de prazer baseado num pilar fascista: Deus, família e pátria, onde cada termo pode ser trocado facilmente por algo mais objetivado – consumo, sexo e poder, respectivamente.
Desse modo a mão invisível do mercado garante uma meta de consumo, a constituição da família fragmentada no ato de conceber e o poder enquanto aglutinante social minimizando o espaço nacional.
Em 1950, no auge do american way of life, é difícil imaginar alguém desconforme com a felicidade reinante: pouco trabalho para obter todos os aparatos tecnológicos inventados na guerra que adquiriram status de essenciais no lar.
Após a guerra, um ex-combatente, Freddie Quell (Joaquin Phoenix) que já apresenta distúrbios sociais, enfrenta dificuldades para adaptar-se ao mundo. Alcoólatra, um dia encontra um grupo de pessoas com uma nova visão da realidade e tenta adaptar-se a ela.
Compartilhando seu conhecimento etílico com o guia destas pessoas, Lancaster Dodd (Phillip Seymour Hoffman), descobre um pouco mais sobre a filosofia destes. Baseado num livro recém-lançado, A Causa, o Mestre Dodd percorre várias cidades promovendo sessões terapêuticas e causando polêmica. Freddie percebe que nada disso tem efeito sobre ele, mas continua usufruindo de uma ausência coletiva.
Muitos viram no filme, uma referência explícita à cientologia, utilizando a mesma época e lugares, mas nada além. Qualquer tipo de seita mais racional serviria de apoio. Paul Thomas Anderson cria um filme estranho, com personagens obscuras e desagradáveis, tornando o filme de difícil assimilação.
A bela fotografia, usando-se de contrastes constantes e um excesso de detalhes não difere muito das produções atuais, fincando-se na beleza gratuita e contemplativa em detrimento de questões simbólicas e realmente fundamentais para a trama.
Da mesma forma que a música, constante sem trazer nenhum aporte diegético, assim as imagens e enquadramentos não oferecem nenhum elemento de estilo, caindo numa utilização estética e algumas vezes sentimental.
A bela atuação dos protagonistas não consegue compartir a mesma evolução psicológica de seus personagens, tão aferrados a uma vaidade tão violenta que nega qualquer chance de reabilitação, ou de carisma.
A polêmica reside no fato da supervalorização do diretor por sempre apresentar filmes longos com mínima utilização da linguagem para ir além de elementos estranhos à trama (a chuva de rãs em Magnólia, de 1999, a eterna fumaça dos poços em Sangue Negro, de 2007, ou o resumo de tudo: o pornô como poética em 1997 com Boogie Nights – ou seja, o explícito superficial como forma de pensamento sublime)
Há cenas entretanto de um forte lirismo, como as espumas do mar deixando o navio, o descanso solitário ao lado de um corpo derruído na areia ou a ânsia por uma bebida roubada em bombas. Mas tudo parece funcionar em função de um tempo morto, necessário para passagem a cenas mais importantes que nunca surgem em sua totalidade.
Serviço
O Mestre (The Master, EUA, 2012, 144 minutos, 14 anos)
Cinemark – Shopping Vitória: Sala 1. Terça e quinta 21h20.
Cine Jardins – Shopping Jardins: Sala 1. 18h45.