A partir do momento que se decidiu que a duração standard dos filmes de longa-metragem é aproximadamente uma hora e meia (muitos dizem que Freud com suas sessões de psicanálise influenciou muito já no começo do século passado), muitos filmes se esforçam para se adequarem aos padrões de atenção do público.
Entretanto, em alguns casos fica claro os espaços e cenas vazias só pra preencher a duração necessária. Os típicos filmes que poderiam ser curtas-metragens. No caso de Um Verão Escaldante, essa sensação é uma constante.

Paul (Jérôme Robart), um jovem ator, um dia é apresentado ao pintor Frédéric (Louis Garrel), casado e devoto à bela atriz italiana Angèle (Monica Bellucci). Passa a ser seu confidente e narrador do filme. Conhece numa filmagem a Élisabeth (Céline Sallette) e passam a viver juntos, na casa de Frédéric. Intrigas e ciúmes serão uma constante no relacionamento dos casais que deverão separar-se para seguir adiante.
A pintura e o cinema sempre estiveram ligados desde a criação deste. As composições estáticas já clássicas serviram ao cinema de forma a construir sua própria linguagem, acrescida de movimento e montagem. Quando o diretor Philippe Garrel propõe a junção das duas num filme, passa a criar uma metalinguagem, mas sempre caindo mais para a pintura.
A câmera na mão como se fosse o pincel do pintor esperando o traço, criando belíssimos planos, mas sem a devida atenção ao tempo de cada plano, sempre longos e sem objetivo que não a contemplação estética. A beleza da fotografia ultrapassa o tempo ideal na busca por um quadro contemplativo, típico da pintura.
Mas o excesso de tempos mortos, tão típico da Nouvelle Vague ou de filmes atuais que não tem o que dizer (Tarantino é o melhor exemplo), cansa o espectador por não ver um desenvolver da trama, sempre parada no mesmo ponto. O diretor se baseia na mesma trama de seu filme anterior, A Fronteira da Alvorada (2008), e a busca cega pelo ideal estético fixado na paixão pela atriz de cinema.
A falta de sincronia da imagem com os diálogos em várias cenas estimula um cinema do olhar em detrimento do som. O que fica marcado também na péssima utilização da trilha sonora, sempre invadindo a trama com a música errada, na hora errada, que acaba tornando o filme previsível em cenas cuja tensão é diminuída pela música.
De um esteticismo exacerbado, tanto na utilização da imagem pela imagem, e até mesmo na escolha dos atores, que não se encaixam na trama, parecem em busca do seu papel, sobra beleza nos figurinos e na maquiagem, proporcionalmente à medida que falta uma direção de arte e uma cenografia adequada.
Um filme pequeno, mas que utiliza uma grande produção, que desborda na criação de outros filmes dentro do filme e parece perder-se nessas histórias paralelas quando não dá a devida atenção na história dos quatro personagens principais.
Serviço
Um Verão Escaldante (Un eté brûlant, França/Itália/Suiça, 2011, 95 minutos, 14 anos)
Cine Jardins – Shopping Jardins: Sala 1. 17h20.