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As águas poéticas de Isabella Mariano em ‘Zona de Descarga’

Jovem escritora realiza no próximo sábado lançamento online de seu terceiro livro de poesias, publicado de forma independente

Com cerca de 13 anos de idade, Isabella Mariano dava os “primeiros passos” na literatura ao criar um blog para dar vazão a seus textos. “Para mim, a leitura e a escrita sempre foram um refúgio, um lugar seguro. Ela deixou de ser refúgio e passou a ser um canal de comunicação meu com o mundo, quando comecei a compartilhar o que escrevia com outras pessoas”. Quando a escrita chega ao público, vira literatura.

Aos 21 anos, a jovem nascida no Rio de Janeiro mas crescida em Vitória e “capixaba de coração”, publicava seu primeiro livro, Gotas (2013, independente). Dois anos depois veio Cortes Lentos (2015, pela Editora Pedregulho). Também seguiu publicando com regularidade seus escritos em sites e revistas de literatura. Agora, no próximo sábado (12) deste 2020 pandêmico, Isabella prepara virtualmente o lançamento do terceiro livro, Zona de Descarga, reunindo 42 poemas escritos entre 2016 e 2020. Será às 17h, no canal Vai Vendo, no YouTube.

Os primeiros versos publicados pela escritora, ainda pré-adolescente, seguem guardados no ambiente virtual, em seu blog atual. Mas agora, ela acredita ter uma escrita mais madura do que a que trazia nas primeiras publicações online e impressas. O terceiro livro, de certa maneira, pode ser visto como uma continuidade de Gotas, o que ela foi perceber depois de iniciar a obra. “Ambos trazem textos pequenos e, de certa forma, abordam o cotidiano”. O cotidiano, diz, é o ingrediente principal de sua poesia.

A água é uma presença constante em Zona de Descarga. O título remete às regiões em que aquíferos desembocam em rios ou em poços artesianos e a dedicatória vai “às águas que me batizaram, às águas que me lavaram, às águas que me afogaram, a todas as águas que me formaram”. A obra se desenvolve em três partes: águas subterrâneas, rochas permeáveis e poços artesianos, tendo o líquido vital como um elemento que perpassa seu texto como fluxo natural, em forma de chuva, rio, onda, maré ou outros formatos, que nos fazem olhar também para nossas águas internas, que circulam e por vezes inundam ou desaguam em forma de sentimentos.

Juane Vaillant

O título Zona de Descarga carrega também essa ambiguidade, proposital, é claro. “Eu passei por um período de grande descarga (em vários sentidos), nos últimos anos”, reflete Isabella Mariano. Começar a fazer terapia a influenciou a querer dizer o que sente e pensa de fato. “Acho que eu sinto tudo ao mesmo tempo. Esse livro traz tanto a minha dificuldade na relação familiar quanto a necessidade de ter força e resistir em tempos tão sombrios como esse. Alguns textos são obviamente políticos. Outros, não. Mas para mim tudo é uma coisa só. Quando digo ‘tempos obscuros pedem correnteza’ , vale pra tudo. Por isso a ambiguidade”.

Ela cita Nina Simone, quando dizia que é dever do artista refletir o seu tempo. “Mas nem vejo isso como um esforço. É natural pra mim”. Além disso, na escrita, Isabella busca sempre desafiar as regras gramaticais. “Não acredito que preciso me prender aos pormenores da língua para fazer poesia. Leminski me ensinou isso. A poesia é muito mais”, considera.

Para sua escrita, a jovem se referencia e inspira, além de Paulo Leminski, em poetas capixabas como Sergio Blank e Elisa Lucinda, e também Hilda Hilst, Carlos Drummond de Andrade, Ana Cristina Cesar, Alice Ruiz e por aí vai. “Eu gosto de ler de tudo um pouco. Sério. Amo ficção científica, distopias, histórias fantásticas e em quadrinhos também. Mas, é claro, amo ler poemas. É uma linguagem que me instiga e eu me sinto facilmente atraída pelo texto em verso”.

Além dos poemas de Isabella Mariano, Zona de Descarga conta com orelha de Juane Vaillant e prefácio de Lívia Corbellari, duas escritoras da mesma geração de Isabella. A publicação foi feita toda de forma independente, a partir do aprendizado editorial que teve ao publicar seu primeiro livro, que contou com apoio financeiro da Secretaria de Estado da Cultura (Secult-ES), em 2013. “A autopublicação é um caminho mais barato pra mim, uma vez que eu sou também designer. Consigo ter controle de todas as etapas e viabilizar meus projetos dessa forma. E arremata sorrindo, sem perder o bom humor: “Não é fácil produzir cultura nesse país, porque, além de tudo, exige muito dinheiro”. O livro será vendido por R$ 20.

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