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Escritor questiona os padrões sociais da geração contemporânea em Yanni

Será que ainda somos orgânicos ou a dependência com a tecnologia já transformou os seres humanos em uma espécie de ciborgues? Esse é um dos questionamentos que o livro Yanni (2014) faz. No conto Uma manha qualquer, um grupo de jovens que dividem um apartamento levam suas vida mediadas pelo computador e a máquina não os deixa enxergar uns aos outros. Enquanto um dos colegas sofre, os outros permanecem trancados em seus quartos em contato com pessoas do mundo inteiro, mas sem saber o que realmente acontece na sala ao lado.
 
A maioria das histórias faz um retrato, muitas vezes irônico, dos jovens da geração Y. Aqueles que nasceram depois de 1980 e assistiram ao avanço tecnológico e a ruptura da família tradicional, além do fácil acesso à tecnologia e à comunicação, que nenhuma outra geração teve. 
 
Além do contraponto entre a vida real e a vida virtual, o livro de estreia do escritor Yan Siqueira aborda temas como a loucura, a esquizofrenia, o cárcere, o amor entre homens, entre mulheres, entre homens e mulheres e a transexualidade. A ficção é usada para questionar padrões sociais de gênero e de sexualidade
 
O livro também tem uma preocupação gráfica, ele é divido em quatro seções, W, X, Y e Z. Uma divisão temática, cada seção aborda uma questão que tem ligação com a obra como um todo. Na primeira parte, W: Três páramos, duas quedas, Yan dá voz a Deus – ou a Deusa. Ele ou ela aparece em alguns contos com um discurso pessimista e cético sobre a humanidade, ao mesmo tempo, os deuses são figuras demasiadas humanas com defeitos e dúvidas sobre a própria existência. 
 
Mas não são sós os deuses que sofrem com o niilismo, os personagens também não encontram sentido para a suas vidas. No conto O corpo de um condenado, presente na sessão X: Histórias cruzadas, uma moça enfrenta a pena de morte sem nenhuma comoção e parece não haver motivação alguma para o crime que cometeu. 
 
Ainda dentro dessa sessão, que tem como tema central o cárcere, um menino é preso em uma instituição de menores e se mantém o tempo todo retraído devido a um passado de dor que não é revelado. Um dia, ele acorda com uma flor nascida no peito e decide viver uma vida diferente, mas mesmo assim ele não é salvo e nem perdoado.
 
Apesar de serem histórias independentes, há um personagem comum em todas elas: o Yanni ou a Yanni, um nome que não possui gênero e que transmite a temática central da obra. A confusão entre feminino e masculino fica bem visível em Y: A incógnita do amor. Nessas histórias de amor, sem um final feliz, a tecnologia sempre tem algum tipo de interferência. 
 
Nessa sessão, um conto se destaca pela linguagem e pela relação afetiva entre os personagens. Em Meu segundo nascimento, Yanni conta toda a sua trajetória desde a não aceitação do corpo na infância, até sua transformação de mulher para homem. Por meio de posts em um blog, ele fala sobre o seu grande amor e a sua gravidez. 
 
A última parte, Z: O que acaba, o fim é descrito de diversas maneiras. O conto A vida é um nó poderia se transformar em um curta metragem, a narrativa é quase cinematográfica. O mistério em torno do personagem, que desaprende a amarrar os sapatos, carrega o leitor atento até o final.
 
A obra Yanni termina com o conto Retrato do escritor capixaba quando jovem. O tal autor capixaba se chama Yan Siqueira. Personagem e autor se misturam em uma narrativa em primeira pessoa de um aspirante a escritor, que se acredita um talento incompreendido e se coloca incrédulo diante do futuro da literatura produzida no Espírito Santo – ou seria literatura capixaba? Como o próprio personagem questiona. 
 
Yan, o do conto, esbarra em clichês e em enredos bobos ao tentar escrever seu livro sem sucesso. Já Yan, o autor, surpreende ao tratar de temas contemporâneos sem medo de ousar.
 
Serviço
 
Yanni
Yan Siqueira
Editora Pedregulho
120 páginas
R$ 25, em média

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