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Prefeitura retira exposição sobre Frida por protesto de direitista

Na coluna: caso aconteceu em Castelo; espaço para cultura indígena no Triplex; ES se prepara para Lei Paulo Gustavo

De volta (por enquanto)

Diante do justo período de férias da repórter e titular da coluna Elaine Dal Gobbo, eu, Vitor Taveira, volto interinamente para escrever nesse espaço, devido ao grande número de acontecimentos envolvendo arte e cultura no Espírito Santo nas últimas semanas. Seguem algumas questões.

Ataque fascista contra cultura e educação em Castelo

Aconteceu em Castelo, no sul do Espírito Santo. Orientados pela equipe pedagógica, alunos de uma escola municipal de ensino infantil e fundamental fizeram trabalhos de artes tendo como base quatro artistas reconhecidos, a primeira delas a pintora mexicana Frida Khalo, um ícone mundial. A escolha se deu pelo fato dela ter sido uma pessoa com deficiência e que fez muitos autorretratos, abordando essa questão publicamente. Os estudantes foram estimulados também a produzirem autorretratos e exercitar seus talentos artísticos a partir dessa inspiração.

Teve-se, então, a ideia de fazer uma exposição para levar os resultados para além da escola. Embora um simples trabalho escolar, ficou bonito e cuidadoso, como se pode ver nas fotos, e a exposição foi montada no Centro Cultural e Turístico, espaço da Prefeitura de Castelo.

Perto dali, o Perim Supermercado (apesar de homônimo, não é a mesma rede que opera na Grande Vitória e é apontada como grande financiadora dos atos fascistas) também cedeu seu espaço para que fossem instaladas alguns produtos do trabalho dos alunos, com intenção de atrair os clientes para visitarem o Centro Cultural – ótima estratégia, aliás, já que é lugar de muito movimento.

Até aí, tudo muito bem…

Fascistas histéricos não podem ter poder de censura

… até que, no último sábado (22), um homem entra no supermercado e dá um chilique desgraçado, falando que Frida era comunista e feminista, que seu marido era comunista, que aquilo era doutrinação das crianças, etc. Diz que vai denunciar na mídia, que vai parar de fazer compras ali. O supermercado, constrangido, retira a exposição. Até aqui, péssimo. Mas vai piorar…

…na segunda (24), a exposição no Centro Cultural e Turístico, que ficaria até quinta (27), com turmas escolares agendadas para fazer visitas, foi desmontada, depois que o mesmo homem também foi ao local e fez seu show com as mesmas ideias estapafúrdias contra uma exposição que era pedagógica, baseada nas Base Nacional Comum Curricular. Ele acionou a prefeitura, que retirou a exposição sem ouvir e consultar a escola sobre a proposta. Há de se dizer que gritar e espernear, desde que não se infrinja alguma lei, é permitido. O que parece inaceitável é uma prefeitura recuar de algo tão embasado por causa de uma pessoa barulhenta e sem nenhuma razão.

Até onde esta coluna pôde apurar, estudava-se remontar a exposição na própria escola. O que não deixa de ser um grande recuo após a censura. As perguntas que ficam é que medo é esse da gestão do prefeito Joao Paulo Silva Nali (PTB) e que poder é esse concedido a um senhor reacionário e sem razão para atropelar e impedir um projeto educativo e cultural? Tempos sombrios que ainda não foram superados…

Espaço para cultura indígena no Triplex 

Foi inaugurado no dia 26 de abril, no Centro Cultural Triplex Vermelho, Centro de Vitória, a Sala Tatãtxi Ywá Reté, pensada para ser um espaço de referência para a cultura indígena, especialmente a Guarani, na Capital. Tatãtxti foi uma líder política e espiritual que liderou a longa caminhada do povo Guarani do Sul do País em busca da Terra Sem Males, até se estabelecer no Espírito Santo. O evento teve presença de descendentes da homenageada, como os caciques Werá Djekupé e Werá Kwaray.

Espírito Santo terá escritório local do Minc

Em visita a Vitória na última semana, o diretor de Articulação e Governança do Ministério da Cultura (MinC), Pedro Vasconcellos, anunciou que o Espírito Santo, assim como cada estado do Brasil, terá a instalação de um escritório local do ministério, para dar conta de atender às diversas demandas do setor neste ano devido a programas federais, a começar pela Lei Paulo Gustavo, que está prestes a começar seu processo de implementação e destinará ao Estado cerca de R$ 75 milhões (R$ 40 milhões para o governo e R$ 35 milhões para municípios), valor um pouco maior que o total da Lei Aldir Blanc 2, que também deve investir recursos no segundo semestre do ano. A Secretaria de Cultura do Espírito Santo (Secult-ES) anunciou também que voltará com o projeto do Gabinete Itinerante, para atender às demandas em todas as regiões capixabas.

Estado se prepara para receber Lei Paulo Gustavo 

Na última segunda-feira (24), foi feita a primeira reunião com agentes culturais da sociedade civil para debater a lei e tirar dúvidas desde os últimos anúncios do Governo Lula, que avança na implementação da mesma, que acabou sendo adiada pela gestão de Bolsonaro (PL). O evento foi híbrido, com transmissão ao vivo pelo YouTube. No mesmo dia houve também reunião da Secult e do Minc com dirigentes de cultura de diversos municípios capixabas.

A secretaria estadual anunciou o calendário de implementação e mecanismos de participação social. Um próximo passo iniciado logo em seguida é a consulta pública online, que fica aberta até 10 de maio neste link.

Programa Fundo a Fundo anuncia valores para municípios

Ainda no embalo da presença do representante do Minc e com presença do governador Renato Casagrande (PSB), o governo anunciou o lançamento do Programa Fundo a Fundo 2023. Neste ano, o valor investido será de R$ 6 milhões do Estado, que junto aos co-investimentos municipais, somarão quase R$ 10 milhões para 54 dos 78 municípios capixabas que se inscreveram e habilitaram no programa. Além disso, foram anunciados investimentos de até R$ 40 milhões no Fundo a Fundo Patrimônio, que tem inscrições abertas para os municípios de 1º de maio a 31 de agosto para projetos relacionados ao patrimônio histórico e cultural.

Conselho Estadual de Cultura renovado 

Durante a semana, também foram finalizadas as chamadas para as eleições da nova gestão do Conselho Estadual de Cultura (CEC), órgão de participação social para o setor que faz parte da estrutura de governança da Secult. Já foram eleitos representantes de diversas linguagens e setores da arte e cultura e também representantes das diversas regiões do Espírito Santo. O mandato dura dois anos e deve ir até 2025. Outro conselho que deve ter eleições em breve é o de Políticas Culturais de Vitória.

Carnaval de Congo segue com problemas organizativos

Ainda que um pouco tardiamente, a coluna registra que a festa do Carnaval de Congo de Roda D’Água novamente foi excelente, mas continua com problemas estruturais a serem resolvidos. Estivemos por lá e notamos a solução de uma das questões que estavam graves, que era o estacionamento nas estreitas vias que gerava um caos de trânsito entre carros e ônibus do Transcol que não conseguiam manobras. A Prefeitura de Cariacica criou estacionamentos gratuitos em propriedades e impediu estacionamento na via próxima à festa. Porém, não deram para todos e muitos carros e os ônibus tiveram que parar longe da festa e os participantes caminharam longa distância para chegar – o que gerou reclamação de alguns.

A instalação de internet na comunidade foi um fiasco total. Embora a prefeitura tenha se esforçado em instalar transmissores, foi tecnicamente insuficiente, e já no início da festa, não estava funcionando, gerando o mesmo transtorno do ano passado nos pagamentos por Pix, PicPay e cartão de crédito, afetando as vendas para comerciantes e desagradando consumidores. Outras reclamações foram pela ausência de lixeiras no campo onde acontecia a maior parte do evento, dos banheiros químicos bastante sujos e do palco com shows e alto volume que tiravam o protagonismo das diversas bandas de congo presentes – que depois tiveram seu momento no palco.

Enfim, algumas questões são estruturais e envolvem o grande porte da festa numa pequena comunidade rural, o que precisa ser estudado com cuidado. Todos envolvem o diálogo com a comunidade e com as próprias bandas, especialmente as locais, para se chegar a boas soluções para que a festa tenha protagonismo delas e também condições de acolher o público com qualidade, promovendo a cultura e a economia locais.

Dia do Jazz com músico capixaba 

Neste domingo, 30 de abril, é celebrado o Dia Internacional do Jazz, reconhecido pela Unesco. A dica da coluna é o disco Perâmbula, do gaitista Paulo Prot, músico capixaba, que traz uma fusão do jazz com música brasileira. O álbum com oito faixas conta com participação de Otavio Castro (RJ) na gaita e baixo elétrico, Nathan Morais (MG), no baixos, e grandes nomes da música feita no Espírito Santo, como Edu Szajnbrum na bateria e percussão, Fabio do Carmo no violão sete cordas, e Manel Fogo, no baixo. O link com as plataformas ouvir Perâmbula está disponível aqui.

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