Sábado, 27 Abril 2024

​'Queremos vincular o martírio de Gabriel a algo maior'

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Levanta, levanta, minha terra!

Desperta, ó povo, desperta!

Tem gente matando gente, gente tirando a vida da gente

Tira essa faca do meu peito

Esse é o canto, sangue da gente

Sangue derramado, clamor de justiça

Grito por liberdade, liberdade!

por Raquel Passos e Carlos Oliveira

Veio da música Pra Ver a Vida Acontecer, de Raquel Passos e Carlos Oliveira, o tema da celebração do 33º Ano do Martírio de Padre Gabriel Félix Roger Maire, que é "Vidas pela Vida Clamor de Justiça". A celebração acontece no próximo sábado (23), a partir das 18h30, na avenida Carlos Lindemberg, onde o corpo do sacerdote francês foi encontrado. No local foi construído o Memorial dos Mártires, recordando a memória não somente de Gabriel mas de outras pessoas que, conforme destaca o tema deste ano, deram suas "vidas pela vida".

Ecos de Gaby

Mas o que seria esse "dar vida a vida"? Joana Penha de Souza, integrante do grupo Ecos de Gaby, que atua na preservação da memória de Padre Gabriel, explica que se trata das pessoas que foram mortas por lutar por igualdade e justiça. Essa afirmação vai ao encontro de outro trecho de Pra Ver a Vida Acontecer, pois como diz a canção, "tem gente matando gente, gente tirando a vida da gente", já que se mata dando fim à existência de um organismo, mas também tirando a dignidade das pessoas diante da negação de seus direitos.

Assim como a canção convoca as pessoas ao despertar, Padre Gabriel, na década de 80, já fazia esse convite impulsionando a participação nos movimentos sociais e sindicais, na comunicação popular, na luta por moradia, igualdade de gênero, saneamento básico, transporte público, saúde, educação e tantas outras coisas. Para o Ecos de Gaby, essa atuação está alinhada ao exemplo de Jesus Cristo, que também foi martirizado por assumir as causas dos mais necessitados.

A celebração deste sábado busca "vincular o martírio de Padre Gabriel a algo maior", lembrar de outras pessoas que, assim como ele, "deram suas vidas pela vida", como a vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco; o ambientalista Paulo Vinhas; a freira agostiniana Irmão Cleusa Carolina Rody Coelho; e o juiz Alexandre Martins de Castro Filho. "Queremos manter viva a memória dessas pessoas que doaram plenamente pela causa da vida, mostrando que devemos manter viva a luta e apontar para a necessidade de engajamento" ressalta Joana.
Memorial onde tradicionalmente é feita a celebração do Grupo Ecos de Gaby

A ideia, acrescenta, "não é fazer a memória na perspectiva da morte", mas "cantar a esperança nesse Advento, nessa criança que vem e nos faz acreditar na vida", salienta Joana, referindo-se à preparação para o Natal, e, portanto, para a comemoração do nascimento de Jesus. Foi justamente no período do Advento que, há 33 anos, no dia 23 de dezembro de 1989, padre Gabriel foi morto.

O crime, até hoje não elucidado, sem nenhuma chance de punição aos mandantes, pois prescreveu, chegou a ser considerado latrocínio, mas nunca houve indício disso, uma vez que absolutamente nada foi roubado. O corpo foi encontrado dentro de um fusca de propriedade do sacerdote, na avenida Carlos Lindemberg.

Padre Gabriel, o Gaby, chegou ao Brasil em 1980. Sua atuação no Espírito Santo, principalmente no município de Cariacica, foi marcada pela intensa participação nas Comunidades Eclesiais de Base (Cebs) da Igreja Católica. Gabriel incentivava a organização popular, sendo um dos impulsionadores da criação de movimentos de mulheres, culminando na atual Associação de Mulheres de Cariacica Buscando Libertação (Amucabuli). Foi essencial nos movimentos de moradia e em meio aos grupos de juventude, como a Juventude Operária Católica (JOC).

Ainda sobre a classe trabalhadora, atuou na Pastoral Operária, onde coordenou um jornal chamado Ferramenta, feito por operários para operários, que buscava informar os trabalhadores sobre questões como as lutas populares no Espírito Santo, no Brasil e, em menor escala, no mundo, além de ter como outro objetivo a educação para a cidadania.

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