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Escola Estadual Comunitária Rural Colatina é reaberta, após três anos de luta social

Demanda antiga da comunidade, unidade localizada no distrito de Angelo Frechiani volta a funcionar em 2022

Divulgação

A Secretaria da Educação (Sedu) anunciou esta semana a reabertura da Escola Estadual Comunitária Rural (EECOR) Colatina, localizada no distrito de Angelo Frechiani. Para mobilizadores locais da Educação do Campo, a reabertura só foi possível após uma luta intensa das comunidades que dependiam da unidade de ensino, a única escola pública na região que oferecia a Pedagogia da Alternância no Ensino Médio.

Gizele Kelfer, professora e coordenadora municipal do Setor de Educação do Campo, comemorou o anúncio. “Representa a força dos movimentos sociais comunitários em busca de um direito que foi abortado. Educação do Campo é direito e não esmola”, declara.

As atividades na EECOR Colatina foram encerradas no final do ano letivo de 2018. Na ocasião, o fechamento provocou uma grande mobilização de agricultores e integrantes da comunidade local. “Nós fizemos vários movimentos, fomos até na Promotoria Pública, movemos um processo em relação a isso pedindo essa abertura, mas na época não fomos atendidos”, explica o representante da associação de famílias “Pe. Fulgêncio do Menino Jesus”, Edmilson Noventa.

Com o início do mandato de Renato Casagrande (PSB), as mobilizações foram mantidas e as demandas apresentadas à Sedu. Após estudos de viabilidade de transporte e avaliação da quantidade de alunos na região, a reabertura foi anunciada. As atividades serão retomadas em 2022, com 120 vagas para alunos do Ensino Médio.

A reabertura da escola também representa uma conquista para os estudantes, que precisam percorrer grandes distâncias para chegar a escolas de outras regiões de Colatina, Pancas ou São Domingos. “Esperamos que agora a gente possa criar meios para que essa escola funcione de maneira correta, que atenda realmente às comunidades que têm essa necessidade. E eu acredito também que agora o que precisa ser feito é um trabalho junto com as famílias para que todos possam abraçar essa causa”, aponta Edmilson.

Gizele ressalta que esse é um direito das crianças, adolescentes e jovens, que devem receber uma educação no lugar onde vivem, e não se deslocar em busca disso. “A oferta tem de ser na região. Uma escola na comunidade, se referindo a essa que contemplará várias comunidades camponesas, tem um valor social e moral para os povos do campo”, destaca.

Divulgação

Um dos diferenciais da EECOR Colatina era a implementação da Pedagogia da Alternância (PA), sistema de aprendizagem que dialoga com a realidade dos estudantes e das comunidades locais. É o que explica o integrante da Associações dos Centros Familiares de Formação em Alternância do Espírito Santo (Raceffaes), Alex Nepel Marins.

“Ela tinha uma importância muito significativa pra nós do movimento de educação do campo, do Comeces, de todas as organizações que fazem parte, porque ela foi a primeira e era a única escola da rede estadual a ofertar o ensino médio por meio da Pedagogia da Alternância. Ela nasceu de todo um processo de articulação, de mobilização feita pelo comitê, principalmente pela Raceffaes, de expansão da Pedagogia da Alternância pela via pública”, explica.

Para Gizele, essa é uma das questões que torna a abertura tão importante, tendo em vista que alunos do ensino médio na região poderão voltar a ter contato com esse método. “O ensino ofertado na EECOR Colatina, assim como nas demais 33 escolas da Educação do Campo do município, considerará, contemplará em sua proposta curricular as especificidades dos territórios camponeses, em sintonia, alinhadas e articuladas com os demais conhecimentos de ensino e conteúdos científicos das Áreas do Conhecimento.

Contexto de fechamentos

Gizele afirma que, quando as atividades na unidade de ensino foram encerradas, nenhuma explicação plausível foi dada pelo poder público. “Sem justificativa. Simplesmente, fechou. Aqui no município teve outra também que foi fechada, no distrito de Itapina. Na época, eles alegavam que era para contenção de gastos”, enfatiza.

Longe de ser um fato isolado, a decisão se soma a todo um contexto de fechamentos de escolas do campo no Espírito Santo e no Brasil. Um levantamento feito pelo Comitê Estadual de Educação do Campo (Comeces) aponta que cerca de 500 unidades tiveram as atividades encerradas no estado entre 2008 e 2018.

“E essa escola funcionava no prédio da escola do município, então nem tinha uma estrutura própria, era em parceria com o município como será novamente. O gasto era com alimentação e material didático. Então foi por querer fechar mesmo. E tinha sim número de estudantes para continuar funcionando, tanto que está sendo reaberta agora”, argumenta a professora.

Para Alex Nepel a reabertura renova a esperança para todo o movimento de escolas do campo no Espírito Santo. “A gente vai ter novamente uma escola do campo oferecendo uma educação contextualizada com a vida do agricultor, com a vida do jovem que é camponês, e que se preocupe com a realidade do campo e desenvolva uma educação de mais qualidade, mais pensada pro ser humano, pra pessoa, pro lugar onde ele está, pra tudo aquilo que ele pode desenvolver”, enfatiza.

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