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Greve na Ufes começa com polêmica sobre Restaurante Universitário

Administração Central alega que bloqueio dos portões impediu funcionamento; docentes rebatem

Foto Leitor

Os professores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) iniciaram uma greve nesta segunda-feira (15), juntando-se aos profissionais técnico-administrativos, que iniciaram movimento semelhante em março. Logo pela manhã, o Comando de Greve realizou bloqueios de portões apenas no campus de Goiabeiras, em Vitória. A Reitoria acabou optando por suspender as atividades presenciais, inviabilizando o funcionamento do Restaurante Universitário (RU), mas a Associação dos Docentes da instituição (Adufes) criticou a atitude.

Em nota oficial, a Administração Central da Ufes afirmou que se reuniu com a Adufes na semana passada para debater a paralisação, mas “em nenhum momento” foi comunicada sobre o bloqueio – o que prejudicaria “não só a circulação dentro do campus, mas impede, por exemplo, o funcionamento do Restaurante Universitário no dia de hoje, em Goiabeiras, o fornecimento de refeições para o campus de Maruípe, e demais serviços como agências bancárias, cantinas, etc”.

A Reitoria argumentou ainda que “reconhece a legitimidade do movimento e das pautas apresentadas pela categoria em nível nacional”, mas suspendeu uma reunião com o Comando de Greve previsto para esta segunda-feira, dizendo ainda que “atuará para que, durante a paralisação, o processo seja conduzido de forma a minimizar ao máximo os impactos para nossos estudantes, técnicos, docentes e para a sociedade”.

A Adufes, porém, afirma que foi estabelecido um protocolo de acesso dos trabalhadores e dos insumos pelo portão norte do campus de Goiabeiras, e que os estudantes também teriam acesso liberado para almoço e jantar no RU pelo mesmo portão. Os docentes repudiaram o que classificaram como “uma tentativa de criminalizar um movimento legítimo e insuflar a comunidade universitária contra a greve”, e também criticaram a “retaliação” com a suspensão da reunião.

“A Diretoria de Segurança e Logística da Ufes foi informada sobre esse protocolo e o Comando de Greve não foi procurado em nenhum momento no portão, tendo sido acionado às 8h12 por meio de WhatsApp com a decisão já tomada de suspender o almoço, sem nenhuma negociação. Às 6h30, a Segurança da Ufes também foi avisada de que os trabalhadores poderiam entrar”, contestou a Adufes, em nota, informando ainda que se disponibilizou a custear as marmitas para os estudantes “mediante a informação de quantas refeições são necessárias”.

A continuidade do funcionamento do Restaurante Universitário é um tema bastante sensível para os estudantes da Ufes. O Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Ufes tem atuado para garantir que, durante o período de greve, haja continuidade tanto do RU quanto do pagamento das bolsas acadêmicas e das políticas de assistência.

Assembleia estudantil

Em Assembleia Geral do DCE realizada na última sexta-feira (12), no campus de Goiabeiras, a deflagração de uma greve estudantil foi aprovada por 73 votos a favor e nenhum contra. Entretanto, a decisão deverá ser referendada individualmente pelos cursos universitários nos diferentes campi da Ufes.

A assembleia, de acordo com o DCE, contou com a presença da presidente da Adufes, Ana Carolina Galvão, que prestou esclarecimentos sobre a greve universitária. Na ocasião, ela reiterou que não houve propostas de fechamento do RU, e que a suspensão de seu funcionamento é uma prerrogativa da Administração Central.

Também cabe à Administração Central decidir se suspende ou não o calendário acadêmico, informou a presidente da Adufes. Em caso de suspensão, após a greve, as disciplinas serão retomadas a partir do ponto em que foram interrompidas.

Ana Carolina ressaltou, ainda, que nenhum professor é obrigado a aderir à greve, apesar de o sindicato realizar um esforço de convencimento político. Entretanto, caso algum docente decidir ministrar aulas online, a situação deverá ser denunciada à Ouvidoria da Ufes, porque essa atitude é proibida.

Pautas

A greve na Ufes faz parte de um movimento nacional capitaneado pelo Sindicato Nacional dos Docentes de Instituições de Ensino Superior (Andes). A reivindicação dos docentes é de 22,71% de reajuste salarial em três parcelas iguais de 7,06%, nos meses de maio de 2024, 2025 e 2026.

Contudo, o Governo Federal sinalizou que não atenderá à pauta este ano. Outra reivindicação não atendida foi a realização do “revogaço” das medidas do Governo Bolsonaro, como a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº 32, que trata da reforma administrativa, que ainda tramita no Congresso Nacional. Os docentes também reivindicam a reestruturação de suas carreiras.

Soma-se a esse cenário, segundo a Adufes, a precarização das condições de trabalho e o subfinanciamento das universidades federais, institutos federais e centros federais de educação tecnológica, já que estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) aponta que 100% das universidades federais receberam, entre 2010 e 2022, valores inferiores ao necessário para manter o patamar de despesas por matrículas.

Já os técnico-administrativos reivindicam reajuste salarial de 34,32%, divididos em cerca de 10% nos anos de 2024, 2025 e 2026. O Governo Federal também não sinalizou possibilidade de reajuste para o ano de 2024 e acenou para um reajuste de 4,5% nos anos de 2025 e 2026. Os servidores também reivindicam reestruturação da carreira, já que vários cargos foram extintos, o que impossibilita a realização de concurso público.

Além da Ufes, docentes e profissionais técnico-administrativos do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) também entraram em greve neste mês de abril. As reivindicações dos trabalhadores são recomposição salarial, reestruturação de carreira para os técnico-administrativos e recomposição orçamentária e de pessoal.

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