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‘Nada substitui a mediação do professor’, enaltece professora de escola do campo

Pandemia destacou relevância da Pedagogia da Alternância para Educação do Campo. Regulamenta-la é prioridade em 2021

MST

“Nada substitui a mediação de um professor no processo de ensino e aprendizagem do educando”. A frase, que pode parecer um chavão, brota com ênfase e verdade da conversa com Fátima Ribeiro, professora da Escola Estadual Paulo Damião Tristão Purinha, do Assentamento Sezínio Fernandes de Jesus, em Linhares no norte do Estado, e integrante do setor de Educação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

A pandemia, afirma, ressaltou essa importância. As escolas localizadas em assentamentos procuraram manter as atividades típicas da Pedagogia da Alternância (PA). “Fizemos uma série de atividades que a criançada pôde realizar mesmo em casa”, conta, citando plantios de árvores, poesias e outras atividades artísticas e as pesquisas, que em muitos momentos dialogaram com a temática da crise sanitária mundial. 


“Claro que muitas crianças tiveram muita dificuldade de fazer esse acompanhamento, nem nós estamos jogando essa responsabilidade acadêmica pros pais. Muito pelo contrário. A pandemia mostrou a urgência da valorização do educador, que é peça fundamental pro desenvolvimento integral, a formação integral do educando”, argumenta.

Na busca por manter-se o mais presente possível no dia a dia dos alunos, os educadores dos assentamentos foram de casa em casa para entregar as atividades pedagógicas não presenciais. Até ser proibida pela Secretaria de Estado de Educação (Sedu), a medida ajudou muito as famílias a acompanharem o cronograma de atividades remotas de 2020.

“O que a gente compreendeu com a pandemia foram as desigualdades e a exclusão dos pobres. Ficou clara a falta de acesso à internet, tecnologias. Com a proibição, as famílias tiveram que pegar as atividades na escola, o que é uma dificuldade extra. Tem famílias que moram a oito, dez quilômetros da escola”, relata.
MST

Sobre o retorno presencial em fevereiro, Fátima conta que as escolas de assentamento estão programando reuniões com as famílias para levar o posicionamento ao governo do Estado. “Em 2021 um debate que vamos fazer é sobre a obrigatoriedade de voltar pra escola. As famílias, ainda mais agora, com novo crescimento da pandemia, estão receosas. Estamos aguardando audiência com o secretário”, informa. “A vida acima de tudo!”, exclama. 

Nesse sentido, o MST seguirá com a perspectiva de formação dos educadores, nos moldes tradicionais, com ênfase na abordagem socioambiental, e fazer o máximo pra que as famílias e educadores não contraiam o vírus. “Pensar na vida é pensar em preservação do meio ambiente, plantar árvores, cuidar do solo, praticar a agroecologia …”, elenca. 

Pedagogia da Alternância regulamentada

2021 também é um ano em que a regulamentação da Pedagogia da Alternância no Espírito Santo será novamente reivindicada como prioridade dos educadores, coletivos e entidades ligadas à Educação do Campo capixaba. O Estado é o berço da metodologia no Brasil, mas ainda não a regulamentou, apesar do pleito ter sido apresentado ainda em desde 2013, na primeira gestão do governador Renato Casagrande (PSB). 
Passados oito anos, a reivindicação continua viva, tendo sido até mesmo elevada a sua necessidade durante a pandemia de Covid-19, que mostrou como os recursos da PA foram fundamentais para reduzir as dificuldades de aprendizagem, em decorrência de um ensino remoto imposto sem a devida universalização do acesso à tecnologia para estudantes e os próprios educadores.

“Falta decisão política por parte do governo pra levar ao Conselho Estadual de Educação (CEE) a proposta de aprovação da regulamentação da Pedagogia da Alternância. É preciso haver uma determinação política que passe pelos trâmites oficiais da Sedu [Secretaria de Estado da Educação] e deixe claro a necessidade de regulamentação por parte do CEE”, explica Fátima.

Em âmbito nacional, contextualiza, a regulamentação da PA – que foi incluída na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) por meio de uma proposta do deputado capixaba Helder Salomão (PT) – foi aprovada no Conselho Estadual de Educação (CNE) em dezembro. “Não do jeito que a gente ou que o Mepes quer, mas foi aprovada, já é um avanço”, diz, citando o Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo, entidade que trouxe a Pedagogia da Alternância ao Brasil, em 1968, em solo capixaba, inspirada na experiência iniciada anos antes, na França.

“A gente tinha perspectiva de avançar em 2020 sobretudo com a mudança de governo para Casagrande, porque sofremos muito nas mãos do Paulo Hartung, com fechamento de escolas e turmas, com perseguição aos instrumentos da Pedagogia da Alternância, mas até agora não conseguimos ver melhorias”.

Ao contrário, lamenta a educadora, a Sedu fechou a alternância semanal nas escolas de assentamento, estabelecendo um regime de ensino integral, relegando o tempo comunidade apenas ao período entre sexta e segunda-feira. A alternância clássica da PA, é preciso ressaltar, acontece alternando uma semana de Tempo Escola e uma semana de Tempo Comunidade, ou seja, o estudante passa uma semana inteira em internato na escola e outra em sua casa.

“Foi uma grande frustração nossa, pois ele dizia que ia regulamentar [a PA]”, relata. No lugar do cumprimento da antiga promessa, veio a Portaria 125-R, em outubro de 2020, recuperando tópicos da Resolução 3.777/2014 e até mesmo de normas do regime militar, como a Lei nº 3.043/1975 e o decreto nº 1512/1981, estabelecendo o tamanho mínimo de dez alunos para manutenção de uma escola do campo. “Tem comunidade cujas escolas têm cinco educandos, por exemplo. É pequena, mas é essa a escola do campo daquela comunidade. Não pode ser fechada”, assevera.
MST

O setor de Educação do MST cuida de 26 escolas, onde estudam 1,5 mil crianças e adolescentes. Todas seguem a Pedagogia da Alternância dentro do possível, considerando as amarras impostas pela Sedu. No Mepes, são 18 escolas que aplicam a metodologia a 2,1 mil alunos. Oito delas estão ligadas à Regional das Associações dos Centros Familiares de Formação em Alternância do Espírito Santo (Raceffaes), que soma, no total, 25 escolas com a Pedagogia da Alternância, beneficiando 1,2 mil estudantes. Pontos de luz no universo de 1.025 escolas municipais e estaduais e 72 mil estudantes do campo, que continuam sendo alijados de seu direito de uma educação de qualidade e alinhada com as especificidades do campo. 

Outras regulamentações necessárias e antigas, elenca Fátima, são das diretrizes da Educação do Campo e das escolas de assentamentos. “Vamos continuar na batalha. São coisas que não podem mais ficar na dependência desse ou daquele governo, precisam se tornar políticas de Estado, para o bem da Educação do Campo e do conjunto dos sujeitos do campo, com suas especificidades”, defende.


Governo reabre diálogo com Comitê Estadual de Educação do Campo

Após quatro anos sem qualquer interação com os setores da sociedade civil ligados à Educação do Campo, o gov


https://www.seculodiario.com.br/educacao/governo-reabre-dialogo-com-comite-estadual-de-educacao-do-campo

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