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Capixabas se destacam em concurso nacional de méis de abelhas sem ferrão

Com sete meliponários inscritos entre mais de 70 concorrentes, Estado levou três premiações

Ritiele Alcântara de Oliveira

Os criadores de abelhas nativas capixabas foram destaque no 7º Concurso Nacional de Méis de Abelhas Sem Ferrão, promovido pela Associação de Meliponicultores do Rio de Janeiro (AME-RJ). Com sete inscritos entre os mais de 70 concorrentes, o Espírito Santo levou três premiações: o terceiro lugar geral e o segundo e terceiro lugares na categoria refrigerado.

O bom resultado é comemorado pelo presidente da Associação de Meliponicultores do Espírito Santo (AME-ES), João Luiz Teixeira Santos. “Significa muito: uma valorização das abelhas sem ferrão e um incentivo para que mais pessoas pratiquem a atividade, o que tem o poder de ajudar na conservação das espécies”, pondera, lembrando que há um grande número de espécies nativas ameaçadas de extinção e, todas, cada vez mais expostas à aplicação desenfreada de agrotóxicos.

Especificamente para a meliponicultora capixaba, a repercussão também é positiva. “Indica que nós, no Espírito Santo, estamos trabalhando bem nos manejos das abelhas e que é alta a qualidade de nossas floradas. O Estado é o campeão brasileiro na quantidade de espécies de plantas por quilômetro quadrado. Isso possibilita uma grande riqueza de sabores e aromas. Se houver um apoio maior para a Meliponicultura, as possibilidades comerciais e ecológicas da atividade vão aflorar”, exulta.

Foram dois meliponários premiados: o Trilha do Mel, mantido pela AME-ES em parceria com a Associação dos Funcionários da Caixa (Apcef/ES), e localizado no Clube dos Funcionários da Caixa, em Bicanga, Serra, que ficou em 3º lugar Geral e em 2º lugar na categoria Refrigerado; e o Meliponário Capixaba, localizado no Patrimônio da Penha, na Serra do Caparaó, e gerido pelo presidente da AME-ES, que ficou em 3º lugar na categoria Refrigerado e em 4º lugar geral.

Um terceiro meliponário também se destacou, o Manacá, localizado em Venda Nova do Imigrante, na região serrana, de propriedade do chef Duaine Clements, que ficou em sexto lugar geral.

João Luiz ressalta ainda outro aspecto importante, que os três meliponários trabalham com espécies diferentes de abelhas: Trilha do Mel com a uruçu-amarela (Melipona modury), Capixaba com a mandaçaia (Melipona quadrifasciata anthidioides), e o Manacá com a uruçu-negra ou uruçu-capixaba (Melipona capixaba), uma espécie endêmica das montanhas capixabas, ou seja, só ocorre nessa região do planeta.

AME-ES

O 7º concurso nacional da AME-RJ aconteceu no último sábado (6) no Parque Natural Municipal da Catacumba, localizado na Lagoa, na capital fluminense, e teve como jurados: Chef Elia Schramm, Eugênio Basile (MBee mel), Dra. Genna Sousa, Dra. Monika Barth e Chef Thomas Troisgros.


Além da competição, a associação também aproveita a reunião de meliponários para trocar experiências e promover capacitações. Os jurados avaliaram os pontos fracos e, a partir deles, indicaram formações específicas para melhorar a qualidade dos produtos no futuro. “Um dos objetivos do concurso é passar informações para os produtores sobre formas de melhorar o trabalho, como a fermentação controlada dos méis maturados”, conta o coordenador do concurso nacional e dos cursos de capacitação da Ame-RJ, Luiz Alberto Medina.

O concurso, conta, foi criado para valorizar os produtos da meliponicultora e é o único em âmbito nacional no Brasil. “O mel de abelha sem ferrão é muito desconhecido. Nosso intuito é trazer o público para conhecer esse trabalho. É um mel diferente. As pessoas o conhecem como mais hidratado, mas não e só isso. Ele tem uma diversidade muito grande, inclusive há alguns tão densos quanto os méis das abelhas africanizadas”.

A diversidade de méis das abelhas sem ferrão decorre da diversidade de espécies desse grupo de abelhas, explica Medina. Enquanto as abelhas do gênero Apis – africanas, europeias e africanizadas (resultado, no Brasil, do cruzamento das duas originais) – somam cinco espécies em todo o mundo, as abelhas sem ferrão compõem mais de 50 gêneros (entre eles o Melipona) e 300 espécies.

Todas as abelhas, com ou sem ferrão, conta, produzem o mel da mesma forma: primeiro, o néctar que é coletado para uma espécie de estômago especial, onde entra em contato com leveduras e bactérias específicas daquela abelha. De volta ao enxame, ela regurgita o néctar pré-fermentado na boca de outra abelha. Essa, ao engoli-lo, provoca um segundo processo de fermentação em seu estômago, regurgitando-o em seguida num favo (Apis) ou pote de mel (sem ferrão). 
AME-ES

“O sabor e a composição química do mel são resultados desse laboratório químico entre a abelha e o néctar que ela coletou”, sintetiza. “Cada espécie tem um conjunto diferente de leveduras e bactérias. Temos sabores característico pra mandaçaia, jandaira, uruçu-amarela, jataí…cada espécie tem uma nota específica, que é misturada com a características da florada. Existem também várias diferenças medicinais e nutricionais, porque o pote das abelhas sem ferrão é feito de cera e própolis, e o mel absorve essas essências”, complementa Medina.


Em Portugal e nos Estados Unidos, os concursos também classificam os méis pela florada, além da espécie, pois cada espécie de planta também contribui para a diversidade de méis produzidos. “Entre as mandaçaias, numa mesma caixa [enxame], pode ter sabores diferentes, dependendo da florada que cada conjunto de abelhas daquele enxame utiliza”, exemplifica. 

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