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O campo é espaço de vida, não só de produção agrícola

O campo é muito mais do que espaço de produção agrícola. É espaço de vida, onde a cultura, a democracia, a educação, a saúde, o lazer e o trabalho são produzidos de forma única e de cuja sustentabilidade depende a qualidade de vida das cidades também.

Esse é o entendimento básico a partir do qual os educadores do campo do Espírito Santo irão se reunir para o Seminário Capixaba de Licenciaturas em Educação do Campo, que acontece dias 27 e 28 de setembro no Auditório do Centro de Ciências Exatas (CCE) do campus de Goiabeiras da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Além da Ufes e do MPA, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) também assina a realização do evento.

A abertura será no dia 27 às 19h com uma mística e, em seguida, uma mesa redonda com palestra de Aloísio Souza da Silva, da coordenação estadual do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), sobre A Conjuntura Nacional e Formas de Enfrentamento.

Na quinta-feira, a programação acontece de 8h às 22h, período em que uma feira agroecológica estará em funcionamento. Após apresentação da Banda de Congo Panela de Barro, de Goiaberias, as mesas-redondas, versarão sobre A Questão Agrária na América Latina: os desafios da formação na era do agronegócio, com Roberta Sperandio Traspadini, da Universidade Federal da Integração Latino americana (Unila), e sobre experiências de Alternância nas escolas do campo, nas Escolas Família Agrícola (EFAs) e na Licenciatura.

No período da tarde, os Grupos de Trabalho (GTs) discutirão os temas Fechamento das Escolas do Campo no Espírito Santo, Educação do Campo por Área de Conhecimento, A Alternância na Educação do Campo e Licenciatura em Educação do Campo: o campo do agronegócio e o campo da Agroecologia.

Aloísio Souza da Silva conta que a subordinação da agricultura ao agronegócio e ao capital está agora num novo momento, em que as fronteiras políticas dos estados nacionais perdem ainda mais importância, por meio de imensas facilitações tributárias de desoneração do capital, e as empresas passam a atuar em toda a cadeia produtiva do seu negócio, definindo a localização de suas estruturas físicas a partir da fertilidade do solo, da disponibilidade de água, do clima e da oferta de mão de obra barata.

“Quem está na cadeia das carnes opera desde o processo produtivo, passa pela logística e chega até a indução ao consumo. Nos grãos, a mesma forma e, assim, sucessivamente”, conta o líder camponês.

Monopólio da terra pelo uso

No momento atual, a ofensiva contra as comunidades camponesas, indígenas e quilombolas é ainda mais agressiva. E o monopólio do uso da terra passa a se dar não só a partir da propriedade da terra, mas, cada vez mais, pelo uso. “Quando a Aracruz Celulose [Fibria] chegou no Espírito Santo, comprou muita terra. Hoje não, ela arrenda ou induz que o proprietário plante o eucalipto”, exemplifica.

Com o café é a mesma coisa, pois os pequenos produtores estão sendo levados pelo próprio Estado e seus institutos de extensão rural, a comprarem os pacotes de produção e comercialização ditados pelo agronegócio. “A Nestlé está investindo pesado na cadeia do café. Distribui mudas para os agricultores, mas monopoliza o mercado, induz o processo produtivo e monopoliza o preço. Se a produção vale 100, ela paga só 50 e o camponês é obrigado a vender por 50, porque não tem mais ninguém que compre”, descreve Aloísio.

O objetivo é colocar a agricultura camponesa em xeque e tornar o campo apenas um lugar de produção agrícola, com muitas máquinas e poucas pessoas que, expulsas, vão inchar as periferias das cidades e configurar mão de obra barata para outras indústrias.

Para o ataque sistemático que o agronegócio empreende contra a agricultura camponesa, a precarização da educação do campo é estratégia fundamental. “O projeto de Educação do Campo antagoniza com a lógica do agronegócio”, enfatiza o coordenador do MPA. Enquanto um concentra a terra e a renda, compara Aloísio, o outro democratiza; enquanto um destrói a natureza, o outro preserva e recupera o meio ambiente; um afronta os direitos trabalhistas e o outro estabelece o trabalho como meio de vida e bem comunitário; um extingue a biodiversidade e o outro a recupera, resgata as sementes crioulas.

Serviço:

Seminário Capixaba de Licenciaturas em Educação do Campo

Data: 27 de setembro, de 19h00 às 22h00 e 28 de setembro, de 8h às 22h.

Local: Auditório do CCE da Ufes de Goiabeiras

Realização: Ufes, MPA e MST 

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