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Acomodações na era da unanimidade não ameaçam projeto das elites capixabas

Rogério Medeiros e Renata Oliveira
 
Com a proximidade do processo eleitoral, as lideranças políticas definem suas acomodações nos palanques colocados para a disputa, mas nada ameaça o projeto político das elites capixabas.
 
 
Renata – Estamos chegando à reta final do período pré-eleitoral. No próximo dia 6 de julho começa a campanha. E as coisas começam a se definir no Espírito Santo, não do jeito que se imaginava que seria, quando tudo começou. Do cenário de unanimidade que se desenhava até meados do ano passado, o que se tem hoje é uma disputa de posição dentro deste projeto de dominação do poder no Estado, que se entende até 2025, que é o original, criado por Paulo Hartung, em 2002, envolvendo um arranjo institucional com o Judiciário e o Legislativo, com Claudio Vereza; além de entidades da sociedade civil, com a OAB de Agesandro da Costa Pereira e a Igreja de Dom Silvestre Scandian. 
 
Rogério – Essa unanimidade está fracionada agora. Temos já como candidatos dentro desse sistema o governador Renato Casagrande e o ex-governador Paulo Hartung a caminho, mas se precavendo de não revelar a sua candidatura tão cedo para não tomar bordoadas que sabe que vai tomar. O Paulo tem um enorme receio que se abra o governo dele, algo que continua trancado. E o ex-prefeito de Vitória, João Coser, que foi responsável direto para que essa unanimidade continuasse viva. Isso porque ele foi um dos principais agentes para tirar da rua o PT, que sempre teve uma ligação muito forte com os movimentos populares, deixando o governo do Paulo livre de qualquer pressão popular. São os principais personagens das eleições que se avizinha. 
 
Renata – É interessante notar como essa disputa de poder entre essas três figuras, trouxe uma desarmonia na classe política como um todo. Isso porque todos já estavam acostumados com a chamada geopolítica, que nada mais é do que a definição da eleição no gabinete. Durante mais de uma década, Hartung definia quem ia para qual cargo e por qual partido, garantindo assim a manutenção do equilíbrio entre os seus aliados. Com a disputa, as demais lideranças se viram diante de uma escolha. E como o cenário está muito indefinido, fica muito difícil fazer a aposta certa.
 
Rogério – Em suma, você tem relativa razão. Mas está falando de um passado, quando o Paulo tinha a caneta na mão e o poder de intimidação, que você mostrou lá em cima, com o arranjo institucional, com o subterfúgio que havia um crime organizado ameaçando o Estado. E apesar de ter a caneta não mão nunca nominou esse crime organizado. Usava o estandarte “Gratz”, como um amuleto, por causa da origem do jogo de bicho, mas não era o Gratz porque ele falava de uma coisa muito maior. Mas hoje isso se confunde com as negociatas de seu governo, que são enormes e que não ganham a expressão devida devido à sua blindagem junto ao Ministério Público, Judiciário e, principalmente, à imprensa corporativa. Há quem diga que se ele tivesse juízo não disputaria a eleição de governador, porque uma coisa é esse manto protetor fora do processo eleitoral, outra é ele desnudado dentro do processo eleitoral.
 
Renata – E aí fica a lacuna da falta de uma candidatura contestatória à unanimidade. Ele disputa o governo porque não há essa voz de embate, já que quem deveria fazer esse contraponto , o PT, já havia sido cooptado para o sistema do Paulo. O senador Magno Malta (PR), que sempre bradou como adversário do Paulo Hartung, com respaldo das urnas, já que se elegeu senador sob a pressão do ex-governador, teria essa credencial. A credencial de oposição do PT foi para a mão dele, mas Malta abril mão desse papel de ser o confrontante da unanimidade no Estado. Então eu te pergunto, por quê?

 

Rogério –  Magno tomou um caminho diferente, achando que deveria ser candidato a presidente da República em um momento em que ele poderia mudar a história política do Espírito Santo…
 
Renata – Só quero destacar, que não estou aqui vangloriando ou defendendo o projeto político do Magno Malta…
 
Rogério – Nem eu. Ninguém está defendendo o fundamentalismo dele. Você não vota nele, eu imagino. Eu não voto nele, mas as classes D e E votam nele. A baixa renda tem dado a ele todos esses mandatos. Magno é um fenômeno de massa no Espírito Santo e ninguém pode negar isso. O curioso é como ele troca isso por uma candidatura a presidente da República, que já está radicalizada entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB). Mas como ele diz que conversa com Deus e eu não sei o que Deus disse para ele. Mas tenho a impressão que se Deus tem juízo não teria dito isso para ele. Teria dito: “Magno, fica com o Espírito Santo, que você estará em boa companhia”. 
 
Renata – Por falar em PT e PSDB, vale destacar o papel desses dois partidos nesse processo eleitoral. Ambos, no Espírito Santo não são exatamente a expressão de suas nacionais. O PT tem até muito espaço, por conta de tudo aquilo que a gente conversou…
Rogério – Tinha até o flerte com PH…
 
Renata – Pois é. Mas é um partido que não tem conseguido defender seu projeto nacional no Espírito Santo e não tem um projeto próprio para o Estado. Está nas mãos do Coser, que é uma figura ligada ao projeto do Paulo. O PSDB tem uma situação ainda pior, porque além de não conseguir da mesma forma defender seu projeto político no Estado, não teve o espaço que o PT teve. E não consegue ver seu real tamanho. Fica também à mercê dos interesses de seu presidente, o deputado César Colnago. Os dois partidos nesta reta final ganharam espaços inesperados na disputa entre os dois palanques. Inesperados por causa dessa falta densidade política e eleitoral que apresentam nos últimos anos.
 
Rogério – Se dermos um recuo na história recente do Espírito Santo, chegando aos oito anos de Hartung, você vai encontrar o então governador vitimando o PT e o PSDB, que ficou pequeno por causa de Hartung, desidratado. O PT também. Você chega em uma situação no Estado,  que PT e PSDB não têm condições de reproduzir como deveriam a disputa nacional. Isso está no país todo, mas aqui estão tão desidratado que não conseguem reproduzir isso no Estado. Aí, PSDB depende de Renato Casagrande acolher a candidatura de Luiz Paulo Vellozo Lucas ao Senado e conseguir garantir a reeleição de Colnago, o que não está conseguindo. Quem tem condições eleitorais no partido é o ex-prefeito de Vila Velha, Max Filho, que é novo no ninho tucano. No PT, se não houver uma boa coligação, como Helder Salomão irá se eleger. Não quero discutir a qualidade dos candidatos, afinal há bons quadros no PT, como por exemplo, a deputada federal Iriny Lopes, que mantém uma trajetória de coerência contra Paulo Hartung, que sabia que esse destino estaria traçado por causa desta relação. Se somar a coligação de estadual, o partido faz um e meio. 
 
Renata – Isso mostra o que você falou sobre a perda de espaço. O partido hoje tem uma senadora, uma deputada federal e cinco deputados estaduais. Tudo bem que senadora Ana Rita entrou como suplente. Mas olha o desgaste do PT, não conseguiu criar condições para uma parlamentar exemplar como é Ana Rita disputar a reeleição. Vai de Coser. O candidato ao Senado dependeria de um bom palanque ao governo para se eleger, que seria o Coser, mas vai arriscar perder tudo. 

 

Rogério – PT e PSDB estão perdidos atrás de uma tábua de salvação. A gente não pode esquecer que há outra candidata ao governo do Estado, que é a Camila Valadão (PSol), como também há outro candidato ao Senado, o advogado André Moreira, do mesmo partido. Mas o PSol é um partido que não tinha condição de fazer esse embate contra o Paulo. Ele não participou desse processo. Não tem deputados federal e estadual, nem vereadores na Grande Vitória. Na conheço a candidata ao governo, que deve ser uma militante da área social. Conheço o candidato ao Senado, que é ombativo. Mas eles não têm condições de enfrentar essa unanimidade que, leia-se, é formada pela elite capixaba que vive em torno do poder,  que vai se estender por mais quatro, oito ou até 2025, com suas falcatruas, independentemente de quem venha a vencer as eleições. 
 
Renata – Lamentável!

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