Nerter Samora e Renata Oliveira
O governador Renato Casagrande (PSB) tem mostrado muito volume na construção de seu palanque com as adesões de prefeitos, partidos e lideranças em geral, já o ex-governador Paulo Hartung (PMDB) é discreto e silencioso. Enquanto o socialista trabalha no atacado, o peemedebista mira suas forças no varejo. Papo de Repórter discute a estratégia dos principais nomes colocados na corrida ao Palácio Anchieta neste período pré-eleitoral.
Nerter – Ainda falta um bom tempo para o início do período eleitoral e a expectativa é de que, em se mantendo o cenário polarizado entre o governador Renato Casagrande e o ex-governador Paulo Hartung, as temperaturas sejam altas durante a campanha propriamente dita. Mas neste momento que antecede a eleição, já podemos observar as estratégias de cada um para tentar chegar em julho em vantagem na corrida eleitoral. Pelos movimentos dos dois, a impressão que se tem é que enquanto o governador Renato Casagrande trabalha no atacado, o ex-governador Paulo Hartung atua no varejo.
Renata – É verdade. Casagrande anunciou sua candidatura à reeleição no dia 6, dois dias depois teve o almoço para a assinatura do ato de apoio ao governador. Terça-feira passada, foi a vez de 10 partidos anunciarem apoio ao governador. Na próxima terça (20) está marcada a chegada de uma caravana de vereadores na Capital para fazer o mesmo. A impressão é que Casagrande quer mostrar volume em seu palanque. Projeta uma imagem de concentração de forças políticas ao seu lado. Nem mesmo a greve dos professores parece estar tirando a confiança do governador na reeleição. Pelo menos, esta é a imagem para fora. O que há de superficial nisso não sabemos. Quantos prefeitos vão realmente apoiar Casagrande, quais os partidos de mais densidade eleitoral, qual a composição para o Senado, isso são questões que com o tempo vão se acomodar, mas a primeira impressão é forte.
Nerter – Enquanto isso, Hartung mantém um silêncio ensurdecedor sobre sua candidatura. Se você parar para pensar, ele até agora não anunciou candidatura alguma. Entregou uma carta ao PMDB, ainda em abril, disponibilizando seu nome para a disputa ao governo do Estado. De lá para cá, quem fala é Lelo Coimbra. Hartung se movimenta silenciosamente com as lideranças nacionais, com os aliados daqui, muda as peças de lugar, se reúne no interior sem estardalhaço. Parece estar indo aos municípios para sentir a temperatura do eleitorado, para sondar qual a sua real musculatura política depois de quatro anos na planície. Flerta com o PT, negocia com o PSDB, mas não fecha com ninguém. São pontos muito frouxos nessa costura. Enquanto Casagrande assume a reeleição, assume o palanque de Eduardo Campos, Hartung não assume nada.
Renata – Mas, veja bem. Isso não significa de jeito nenhum que ele vá desistir da campanha. É apenas uma estratégia diferente. Quando ele deixa os pontos frouxos na costura é para observar melhor o cenário até a última hora, esperando que as brumas se dissipem. Vai escolher um caminho seguro, até porque, desta vez não vai ter jeito, se for para a disputa ao governo do Estado, vai ter que disputar voto a voto com Casagrande. Vai ser uma eleição muito dura, com resultado imprevisível, pelo menos por enquanto. Não se sabe como o fator Copa do Mundo vai influenciar nas eleições nos Estados, como vai se dividir a classe política, seja por escolhas locais, seja por ingerência das nacionais. Enfim, há muitas variáveis em aberto.
Nerter – Também não acho que Hartung possa pular fora de alguma maneira. Há toda uma estrutura montada para sua campanha. Quando falo estrutura não me refiro ao projeto comandado por Robinho Leite e Simone Modulo para a campanha propriamente dita. Falo dos movimentos iniciais de Hartung, da movimentação dos aliados, das mexidas de peças que ele fez, como Neivaldo Bragato no DEM, que agora é cotado para ser vice. Tem também a ida de aliados para o PSDB, para fortalecer o lado pró-Paulo no ninho tucano. Isso sem falar nos cenários artificiais criados pelas pesquisas recentes, o estudo sobre os gastos do governo Renato Casagrande, enfim toda a movimentação que abriu espaço para a entrada dele na disputa.
Renata – A pergunta que fica é como se comportarão neste cenário os aliados. Há quem aposte que ele não fica nem com o PT, nem com o PSDB. Que a movimentação com os petistas foi apenas para tirá-los do palanque de Casagrande. Se isso de confirmar, ponto para o Hartung. O PT titubeou e Casagrande fechou a porta. Agora os petistas estão aí, tentando jogar a culpa no governador sobre um erro de leitura que foi do próprio partido. Porque, sinceramente, depois de tudo que aconteceu desde 2002, acreditar que Hartung seria o candidato de Dilma no Espírito Santo é abusar do direito de ser inocente.
Nerter – E tem gente que acha que ele também não vai ficar com os tucanos, mas aí o esquema é outro, a aproximação de Hartung com as lideranças do PSDB é conhecida. Há interesse em manter a candidatura tucana e de preferência que haja uma candidatura de Luiz Paulo Vellozo Lucas ao Senado para pulverizar o cenário, o que para ele é interessante, porque isso também enfraquece o palanque de Casagrande. Além disso, será que alguém acredita que Hartung e Rose de Freitas são amigos desde a infância?
Renata – Agora, essa disputa vai ser boa. Apesar do volume que Casagrande quer mostrar, não vai ter de enfrentar uma eleição muito difícil. Os municípios estão em situação complicada, isso quer dizer que os prefeitos estão situação política complicada também. Então, o que significa efetivamente para o governador ter o apoio da maioria dos prefeitos? Como isso vai se transformar em votos? Hartung, por sua vez, tem também suas limitações. Casagrande é mais próximo da rua que Hartung, o ex-governador não tem trejeito de candidato, já comentamos isso aqui no Papo. Se Casagrande estiver ao seu lado o ex-senador Gerson Camata (PMDB), vai ficar mais fácil vender essa marca de homem do interior.
Nerter – Aliás, essa movimentação de Ricardo Ferraço e Camata – Gerson e Rita –, além de Luiz Paulo Vellozo Lucas, na direção de Casagrande tem um simbolismo grande negativamente para Hartung. Afinal são aliados do PMDB. Isso esquenta ainda mais o debate pré-eleitoral. Depois de 12 anos há uma expectativa grande nesta disputa. Temos que considerar que o eleitor capixaba vai efetivamente acompanhar em embate, mas isso não significa um debate de programas de governo para o Estado, já que ambos disputam a operacionalidade do ES-2030. Por isso, fica a expectativa de como será essa disputa, que claramente é uma briga por poder. Quais os argumentos que serão usados? Como as forças políticas vão se comportar?
Renata – Agora, uma coisa tem de ser analisada com mais calma. O PT tinha um grande espaço no poder, mas não é uma potência eleitoral no Estado, Hartung tirou o PT do palanque de Casagrande, sim, e daí? No seu palanque quer colocar PSDB e DEM. Vamos lá. O PSDB vem acumulando derrotas, diminuiu de tamanho na eleição de 2012 e só tem representação na Assembleia graças a suplência ocupada por ocasião da eleição de 2012. E o DEM que cogita lançar Elcio Alvares ou Edson Magalhães a deputado federal. Hartung precisa fechar a costura com o PDT logo. Seria um partido de peso na disputa. O PDT de Vidigal equilibraria as forças com o palanque de Renato Casagrande, que está, por enquanto, congestionado de nanicos.
Nerter – Acho que esta é a batalha a ser lutada até as convenções. Mas é claro que vão tentar manter os aliados em banho-maria até o último segundo para não fechar as negociações e não ter com o que atrair os aliados. E essa batalha promete ser muito empolgante também. Vamos acompanhar de perto.