Como se não bastasse a implosão do PSDB provocada pela aliança com o MDB, conduzida isoladamente entre os presidentes dessas siglas na terça-feira (19), deputados estaduais integrantes do “grupão” rechaçaram a medida com críticas ao governador Paulo Hartung, inspirador da ideia, e reafirmaram o apoio à candidatura do colega Amaro Neto ao Senado.
A movimentação dos parlamentares visa neutralizar o desenrolar da coligação entre os dois partidos, que inclui Amaro como um dos candidatos ao Senado no grupo do governador, anulando o pacto assinado entre ele e 19 deputados estaduais, em agosto do ano passado, formando o “grupão”, que mexeu com o mercado político.
Com essa estratégia, Hartung quer se “apropriar” de Amaro, estreante na política, mas com enorme potencial eleitoral, em parte devido ao seu programa na TV de forte apelo popular, e, também, por ter demonstrado desenvoltura no meio, ensaiando movimentos cuja tendência é a ampliação do seu capital eleitoral em carreira solo.
O quadro, dentro dessa perspectiva, é esse: tanto Hartung como os deputados querem pegar “carona” nesse potencial. Exemplo disso foi dado pelo líder do governo na Assembleia, deputado Rodrigo Coelho (PDT), que recentemente preferiu Amaro a Hartung como atração de uma festa que promoveu em seu reduto, Cachoeiro de Itapemirim, sul do Estado.
A queda de braço entre governo e os 19 deputados do “grupão” foi sinalizada de forma discreta na sessão de terça-feira (20) na Assembleia Legislativa, quando veio à tona a aliança formalizada pelos presidente do MDB, Lelo Coimbra, e do PSDB, César Colnago, isoladamente, e sem consulta a outras lideranças, como parte da estratégia de Hartung visando sua reeleição e a formação de chapa para o Senado e de deputados federais.
Da parte dos deputados estaduais fora do bloco do governo, Hartung não tem nada a dar em termos de votação, da mesma forma com Amaro, que já experimentou o abandono do governo na última fase da eleição para a Prefeitura de Vitória, quando foi deixado à míngua, possibilitando a vitória a Luciano Rezende (PPS).
Em agosto do ano passado, dois terços dos deputados estaduais participaram de um almoço para formalizar o apoio à candidatura do deputado Amaro Neto, então no Solidariedade, ao Senado. O presidente da Assembleia, Erick Musso (MDB), um dos principais entusiastas da candidatura de Amaro, entregou uma carta ao parlamentar, representando outros 18 deputados que querem o colega em Brasília em 2019. Na carta, os deputados explicam por que decidiram apoiar Amaro.
Entre os motivos eles destacam a importância de ter lideranças que deem continuidade às reformas em curso no Congresso. A carta também retoma um discurso já antigo de que o Espírito Santo é tratado de forma desigual pelo governo federal e registra a proposição de uma nova política, com um nome que mostre sua conexão e respeito com o povo.
“Um jovem, um nome novo, mas preparado para os desafios atuais. Acreditamos que Amaro é o senador que vai representar os anseios aqui relacionados, além de tantos outros fundamentais ao avanço do desenvolvimento e da justiça social no Espírito Santo. Ele já mostrou seu preparo, poder de articulação, tem suas raízes fincadas no povo capixaba, e certamente fará um excelente trabalho no Senado Federal”, dizia a carta.
O documento foi assinado pelos deputados Erick Musso, Marcelo Santos, Luzia Toledo, Gildevan Fernandes e José Esmeraldo, todos do PMDB; Raquel Lessa (SD), Rodrigo Coelho (PDT), Janete de Sá (PMN), Dary Pagung (PRP), Enivaldo dos Anjos (PSD), Jamir Malini (PP), Marcos Mansur (PSDB), Rafael Favato (PEN), Gilsinho Lopes (PR), Sandro Locutor (Pros), Eliana Dadalto (PTC), Hudson Leal (Podemos) e os petistas Nunes e Padre Honório. Destes, não puderam comparecer ao evento os deptuados Janete de Sá, que estava em audiência; Rafael Favatto, em licença médica e Padre Honório, em agenda no interior.
Na ocasião, Amaro Neto convocou os parlamentares a continuar esse processo de debate, atraindo outras lideranças, como prefeitos e representantes de classes das bases dos parlamentares, para compor uma agenda para o Estado, e afirmou colocar o nome na disputa com antecedência, para “demarcar um espaço político de aprofundamento do projeto como uma construção gradual e paciente, que neste momento aglutina o apoio da Assembleia e deve se ampliar”.

