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Ferraço sempre esteve à frente dos grandes negócios da prefeitura’, afirma Yamato

Considerado uma testemunha-chave para desvendar o envolvimento do presidente da Assembleia Legislativa, Theodorico Ferraço (DEM), no esquema de recuperação de créditos tributários, o advogado Yamato Ayub Alves, que é auditor fiscal e delegado da Receita Federal aposentado, voltou a confirmar a participação do parlamentar na administração da mulher, a ex-prefeita de Itapemirim, Norma Ayub. Além de afirmar ter participado de reuniões entre Theodorico e os sócios da empresa de consultoria CMS, Yamato Ayub revelou que o demista chegou a procurá-lo para montar,  em 2005, um escritório de assessoria a prefeituras caapixabas.

Em entrevista exclusiva ao Século Diário, o advogado rechaçou as suspeições lançadas contra ele por Theodorico Ferraço, em depoimento prestado à Polícia Civil, nessa terça-feira (22): “Ele tenta me desqualificar, mas sofro de um grande 'mal': tenho ojeriza à corrupção e tenho nojo de corruptos”. O advogado, que atuou ao lado de Ferraço no início da gestão de Norma na prefeitura de Itapemirim, afirmou que participou de pelo menos duas reuniões entre o empresário Cláudio Mucio Salazar Pinto, sócio da empresa investigada, e o deputado, que estava tratando da negociação do contrato com a CMS.

Durante o curto período em que esteve na Secretaria de Finanças do município, Yamato declarou que foi procurado por três vezes pelos representantes da empresa Everest, que prestava serviços de assessoria à gestão anterior à de Norma Ayub. “Fui procurado na tentativa da empresa em renovar o contrato. Mas o Ferraço mandou descartar, já que ele estava em reunião com Cláudio e Vitor Martins [que foi citado no depoimento de Ferraço como uma das pessoas com a qual ele se reuniu por coincidência]”, afirmou.

Yamato Ayub afirma que a relação entre ele e Ferraço começou a se deteriorar após não compactuar com a manutenção de episódios de corrupção na gestão da irmã. “Participei de criação de um grupo de combate à corrupção no município, criado em 2002. Nosso grupo escolheu a Norma [então secretária na gestão de Ferraço, em Cachoeiro de Itapemirim], porque não tínhamos outro nome na época para disputar as eleições”, relembrou.

O advogado esclareceu ainda que fi a irmã quem pediu para ajudá-la na administração, quando surgiram os primeiros indícios de fraudes na gestão. “Logo que tomei posse na Secretaria de Finanças, me recordo de uma passagem onde um empresário saiu com o processo debaixo do braço para receber R$ 38 mil pelo aluguel de um caminhão-pipa, que havia sido acertado em R$ 2,9 mil. Fui contra aquilo. Daí para frente, passei a ser visto como uma pedra, ou melhor, um tijolo no sapato de Ferraço”, recorda.

Acusado pelo deputado de ter feito as denúncias por uma suposta retaliação por conta da “reprovação familiar” a um relacionamento amoroso, Yamato Ayub esclareceu: “Admito que tive uma relação com uma funcionária que acabou sendo massacrada de forma injusta, mas o grande objetivo daquilo era me atingir”.

O advogado estima que participou da gestão por cerca de um ano e meio, mas que desde a saída da pasta de Finanças – ocorrida cerca de três meses depois da posse – passou a colher provas sobre a atuação de Ferraço na gestão. “Ele sempre esteve à frente das grandes obras, grandes empreitadas e grandes desapropriações da prefeitura de Itapemirim”, sinalizou, citando a influência de Ferraço nos grandes negócios que envolviam a gestão de Norma – que, na verdade, era comandada pelo parlamentar.

Ele revelou que, no início da gestão de Norma, em 2005, o próprio Theodorico Ferraço havia lhe convidado para montar um escritório para prestar consultorias a prefeituras. “Fiquei mais de dois meses protelando uma decisão até ele parar de me procurar”, disse o advogado, relembrando que o convite teria ocorrido pouco antes da assinatura do primeiro contrato com a CMS. “Nunca soube o motivo daquela proposta”.

Mesmo afastado do município, Yamato continuou vigilante sobre os desdobramentos do escândalo. Ele relata que pessoas ligadas a Ferraço continuaram a exercer pressão sobre a prefeitura – até mesmo na atual gestão, do prefeito Luciano de Paiva Alves (PSB), que derrotou o candidato apoiado pelo presidente da Assembleia, Estevão Machado (PMDB).

Segundo ele, o ex-secretário Eder Botelho Fonseca – nomeado como diretor financeiro da Assembleia pelo deputado – solicitou uma reunião com o futuro secretário de Finanças após duas tentativas frustradas de Ferraço em se reunir com o prefeito eleito, logo após a diplomação, no início de dezembro. A pauta da reunião seria a renovação do contrato com a CMS. Teriam participado do encontro, além de Eder Botelho – preso na operação policial –, o futuro secretário de Finanças de Itapemirim e o empresário Cláudio Mucio Salazar.

O interesse do grupo de Ferraço era manter o contrato com a empresa, de olho nos valores expressivos das execuções fiscais abertas pelo município contra as multinacionais do setor de petróleo. Estima-se que a prefeitura tenha um total de R$ 800 milhões em cobrança de imposto. De acordo com o contrato da CMS, a consultoria teria direito a 15% a título de honorários, o que daria um valor próximo a R$ 120 milhões no esquema. “O Eder era um homem de confiança do Ferraço. Ele fazia a  ligação entre Ferraço e a CMS”, denuncia.

O irmão de Norma também negou qualquer “ação diabólica” para influenciar a ex-vice-prefeita do município, Sandra Peçanha Marvilla, como afirmou o presidente da Assembleia em depoimento. “Sempre que a Norma viajava, percebi que as ações duvidosas iam para ser assinadas por ela. Chamei a Sandra, o pai dela e o marido para alertá-los que ela estava sendo usada por Ferraço. Yamato teria dito à família Marvilla: “Cada vez que a Norma viaja, a turma do Ferraço te leva para o buraco”, disse.

Sobre o relacionamento com a irmã, Yamato Ayub é econômico nas palavras. Mas faz questão de dizer que Norma teria sido a “grande vítima” de Ferraço. “Ela sempre acreditou cegamente nele”, lamentou o advogado de 72 anos, segundo filho de uma família de 16 irmãos -apenas um falecido. Enquanto concedia a entrevista, ele foi interrompido por uma ligação onde tinha notícias sobre a saúde da mãe, com 90 anos de idade, que está abalada com a prisão da filha e de todo o escândalo.

“Ele [Ferraço] diz que cometi alguma irregularidade, mas é só comparar a ficha dele com a minha. Levanta a lista de processos contra ele no Tribunal de Justiça e no Ministério Público Federal (MPF)”, desafia Yamato, que se aposentou como delegado do Ministério da Fazenda no Espírito Santo após 37 anos de atuação, com passagens como auditor fiscal e delegado da Receita Federal.

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