O termo assimilação é usado nas ciências sociais para definir a forma como características de uma cultura ou etnia passam a fazer parte de outra. Algo parecido com o que vem fazendo o prefeito de Vitória, Luciano Rezende (PPS), em relação à apropriação de ações e discursos alheios para promover sua gestão.
Da mesma maneira que tenta convencer a população de Vitória de que a polêmica em torno da taxa de marinha é uma bandeira que sempre foi sua, Luciano também vem afirmando que a redução dos índices de homicídios na Capital se deve exclusivamente à guarda municipal. A mais nova cartada do prefeito é reivindicar para si o título de inimigo número 1 do pó preto.
Luciano, que sempre se manteve reticente em relação à poluição causada pela Vale e ArcelorMittal na Ponta de Tubarão, jura agora que foi apenas coincidência o fato de aprefeitura ter aplicado uma multa de R$ 86,4 milhões nas poluidoras justamente no dia em que a Justiça mandou interditar as operações no Porto de Tubarão. Apesar das justificativas do prefeito, o mercado político sentiu cheiro de oportunismo na repentina mudança de posição de Luciano sobre a grave questão da poluição ambiental na cidade.
É verdade que a publicação do decreto majorando as multas para poluidoras saiu no início da semana. Mas, para algumas lideranças políticas, a multa milionária que pune as empresas pela emissão de poluentes, no mesmo dia da operação da Polícia Federal, foi uma jogada que combinou oportunismo e esperteza do prefeito, que soube capitalizar com o episódio e sair na frente dos adversários.
Pelos menos outros dois adversários em potencial do prefeito na disputa à prefeitura de Vitória nas eleições deste ano adotam o discurso do combate à poluição ambiental: o vereador Serjão (de saída do PSB) e o deputado estadual Enivaldo dos Anjos (PSD), principal protagonista da CPI do Pó Preto na Assembleia. O prefeito até então não entrava nesa discussão, mas como o assunto na ordem do dia, o prefeito conseguiu entrar bem no debate e impressionar a população.
Antes disso, Luciano Rezende havia entrado na discussão do terreno de marinha. Durante o mandato de deputado estadual, Luciano chegou a presidir uma comissão na Assembleia para discutir o tema, mas depois que chegou à prefeitura deixou o debate de lado.
Terreno de marinha sempre foi uma bandeira do deputado federal Lelo Coimbra (PMDB), tanto que ele liderou em 2015 uma comissão que trata do tema na Câmara dos Deputados. Mas, o prefeito retomou recentemente a discussão sobre a cobrança, ao perceber que podia capitalizar com o assunto e ao mesmo tempo enfraquecer um dos seus princiapais adversários.
Outra assimilação de Rezende de um discurso alheio de muito interesse da população é o que se refere à diminuição da taxa de homicídios na Capital. Ele atribuiu os índices às ações da Guarda Municipal, o que já foi contestado pelo próprio secretario de Segurança, André Garcia.
Com essas articulações, o prefeito ocupa os espaços de seus adversários e tenta entrar como protagonismo nas principais pautas de discussões da cidade que devem pulular a disputa eleitoral deste ano. Falta saber se a estratégia vai dar certo ou o eleitor irá interpretar a jogada de Luciano como oportunismo.