
Digamos que Ricardo Ferraço está esperando “esfriar o defunto” para cair de cabeça na campanha de Paulo Hartung. Por esse motivo o senador, que agora coordena as campanhas do presidenciável tucano Aécio Neves no Estado e a do ex-governador ao Palácio Anchieta, preferiu não se juntar ao candidato peemedebista no ato desse sábado (26), em Cachoeiro de Itapemirim, sul do Estado.
Os “conselheiros” de Ricardo devem ter concluído que a exposição do senador neste momento desgastaria ainda mais a imagem dele. Pegou mal para Ricardo o fato de ele ter trocado o palanque do socialista pelo do peemedebista para preservar seu projeto político pessoal.
A desculpa para justificar a ausência de Ricardo em Cachoeiro foi um compromisso em Domingos Martins. Ricardo foi um dos palestrantes do 120 Encontro de Inverno do Sindicato do Comércio Atacadista e Distribuidor do Espírito Santo (Sincades), que termina neste domingo (27).
O evento do Sincades, que pega carona no Festival de Inverno de Domingos Martins, é na verdade uma boa oportunidade para a elite capixaba se reunir para saborear bons vinhos e ouvir boa música. Para falar que não foram para Pedra Azul somente a passeio, os empresários apresentam alguns números do setor e floreiam o encontro com um palestrante de peso. No caso, Ricardo, fiel representante dessa elite, foi o convidado ilustre desta edição do evento.
Todo mundo sabe que não seria o trajeto de uma hora e meia de viagem que separa os dois municípios que impediria o senador de marcar presença na campanha do ex-governador, caso ele fizesse questão. A desculpa de conflito de agenda foi estratégica.
Ainda repercute negativamente à imagem de Ricardo a mudança repentina de posição. Tanto é que o governador Renato Casagrande (PSB), que fazia campanha no outro extremo do Estado, parece não ter digerido a “traição” do senador.
No discurso que fez em São Mateus, Casagrande falou por “parábolas” para criticar, sem citar nomes, a traição de Ricardo. “Ouvi muita gente criticando a maneira com que alguns políticos pulam de galho em galho e mudam de opinião como quem troca de camisa. Na verdade, ética, responsabilidade e compromisso não são produtos que a gente compra no mercado, ou discursos para ser usados de acordo com a ocasião. São valores que as pessoas têm ou não têm. E é com esses valores que a gente vai seguir em frente”, discursou o candidato do PSB.
Casteglione não repete Deptulski
Outra ausência sentida na caravana de Paulo Hartung por Cachoeiro de Itapemirim foi a do prefeito da cidade, Carlos Casteglione. O prefeito é um dos petistas com coração assumidamente hartunguete. Ele deve ter sofrido muito em casa, “impedido” de apoiar publicamente o ex-governador.
Na manhã do sábado (26), antes de Hartung pôr a campanha nas ruas da capital secreta, Casteglione se reuniu com o ex-governador para um café-da-manhã.
Ele queria explicar ao ex-governador que a presença do colega, o prefeito de Colatina Leonardo Depetulski, sábado passado, no palanque do peemedebista, na ocasião do lançamento da campanha de do ex-governador no norte do Estado, pegou mal com a militância do partido. Afinal, o prefeito dividiu o palanque, microfone e os aplausos com dois inimigos declarados da presidente Dilma Rousseff: Paulo Hartung e seu vice, o tucano César Colnago. Se a prioridade número 1 do PT é reeleger Dilma…
O apoio do grupo de João Coser, candidato petista ao Senado à candidatura do ex-governador é sabido, mas não precisa ser tão explícito, senão o efeito pode ser negativo para dentro do partido. Por isso, a estratégia escolhido foi deixar o prefeito de Cachoeiro de fora do ato do peemedebista.
Pesava também contra a reedição do “palanque clandestino” PMDB-PT-PSDB de Colatina, o fato de o candidato ao governo do PT, Roberto Carlos, ter agenda no município no dia seguinte, ou seja, neste domingo (27).
Tudo bem que Roberto Carlos é candidato laranja do PT, mas também não quer ser ridicularizado publicamente perante a militância do partido. Imaginem, num dia a população cachoeirense registra a imagem de Hartung, Colnago e Casteglione levantando os braços com as mãos entrelaçadas naquele gesto canastrão: “unidos, rumo à vitória!”, e no dia seguinte Roberto Carlos, que não é o Rei, pedindo votos e fazendo promessas para a população da “pequena Cachoeiro”.