O último debate televisivo antes das eleições de domingo (5) foi um verdadeiro suplício para o candidato do PMDB Paulo Hartung. Visivelmente nervoso, o ex-governador contava no relógio os minutos para o debate desta terça-feira, (30) da TV Gazeta, chegar ao fim. Prova do nervosismo e insegurança de Hartung ficou patente no fato de o candidato dirigir todas as perguntas ao candidato do PT, Roberto Carlos que, mais uma vez, seguiu sua estratégia de não entrar em bola dividida.
O governador Renato Casagrande (PSB) e a candidata Camila Valadão (PSOL), porém, não fugiram ao debate. Camila fez perguntas para Casagrande e Hartung. O socialista, por sua vez, direcionou todas as suas perguntas ao candidato do PMDB. Logo no início, Casagrande cobrou explicações de Hartung sobre as denúncias da mansão em Pedra Azul, omitida da declaração de bens do candidato do PMDB entregue ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE-ES).
Irritado, Hartung atacou o jornal Século Diário, que foi o primeiro a publicar a reportagem sobre a mansão oculta. Ele criminalizou o jornal e disse que o veículo não tinha credibilidade. Acrescentou ainda que Casagrande estava comprando as notícias publicadas em Século Diário contra ele. Sem responder os questionamentos de Casagrande, o peemedebista preferiu partir para a estratégia de tentar desqualificar o veículo. O ex-governador afirmou que havia uma investigação do Ministério Público Estadual (MPES) em curso contra o jornal.
Ironicamente, Casagrande rebateu os argumentos de Hartung, alegando que se o argumento do adversário fosse verdadeiro, sobre sua influência no conteúdo de Século Diário, ele teria que influir editorialmente em outros veículos da imprensa nacional que publicaram o escândalo da “mansão secreta”.
Emendando a deixa de Casagrande sobre as denúncias, Camila Valadão perguntou a Hartung se ele não se sentia “constrangido” em disputar as eleições diante de tantas denúncias. Citou “posto fantasma”de Mimoso do Sul, as viagens da mulher de Hartung com dinheiro público, e a mansão não declarada ao TRE-ES. Ela ainda acrescentou que o PSOL ingressou como uma ação na Justiça para investigar as denúncias. A ação, protocolada na Justiça Eleitoral na última segunda-feira (29), pede também a impugnação das candidaturas de Paulo Hartung e do vice, César Colnago (PSDB).
Hartung voltou a dizer, tentando conter o nervosismo, que as denúncias vieram de um “site”, que pertence ao “ex-secretário da Fazenda” do governo Vítor Buaiz e que estaria recebendo “recursos do governo do Estado” para atacá-lo. O candidato fazia referência a Século Diário e ao diretor responsável do jornal, Rogério Medeiros.
Casagrande pediu direito de resposta sobre a acusação de que estaria comprando notícia do jornal, mas a organização do debate negou o pedido, entendo que a honra do candidato não fora ofendida. Mais adiante, o governador aproveitou a tréplica de uma pergunta do candidato Roberto Carlos (PT), para dizer que as denúncias foram divulgadas também pelo jornal O Globo e provocou. “Se fosse assim, eu teria que estar financiando o jornal O Globo. Não é um site local, é a imprensa nacional que vem tratando deste tema”, esclareceu.
Casagrande voltou a questionar Hartung sobre as denúncias no segundo bloco, desta vez sobre as viagens da ex-primeira dama. “Não adianta condenar o site, vai ter que condenar O Globo, a Rede Gazeta, o Ministério Público”, disse o governador questionando seu antecessor.
Hartung afirmou que Casagrande estaria sendo investigado pelo MPES sobre o uso de dinheiro para pagar o site [Século Diário], que publicou as principais reportagens sobre corrupção no governo Hartung. Ainda fazendo sua frágil defesa sobre as acusações, Hartung disse que tem uma carta do então ministro da Cultura sobre a viagem da mulher, Cristina Gomes, a Brasília. Na verdade ele tentou explicar apenas uma viagem. Não esclareceu, porém, as mais de 40 viagens que a então primeira-dama fez ao Rio e são Paulo nos fins de semana.
O candidato se queixou dos ataques de Casagrande à sua família, classificando-os como “baixaria”. Casagrande rebateu afirmando que não estava atacando a família do adversário, e que a postura do peemedebista de fugir das perguntas fazia parte da “velha política”.
Questionado sobre uma viagem de jatinho no dia 21 de junho de 2011, por Paulo Hartung, Casagrande admitiu que fez uma viagem a trabalho a Ouro Preto para as comemorações de Tiradentes e reunião com governadores “Não meça meu comportamento pela sua fita métrica”, disparou Casagrande.
Hartung rebateu lembrando de uma denúncia contra Casagrande do período em que ele era senador . “O senhor responde a um processo do mensalão da Camargo Correia no Supremo Tribunal Federal (STF). A fita para medir são os anos de trabalho e bons mandatos que tenho exercido em favor dos capixabas”, rebateu o peemedebista.
Já o governador esclareceu o caso Camargo Correia. “É uma retaliação de Renan Calheiros, que é do PMDB, e fez essa armação contra mim”. Ele acrescentou ainda que o processo está extinto no Supremo.
Os candidatos falaram ainda sobre saúde, educação, agricultura, segurança pública, saneamento e impostos. No balanço final, Casagrande passou mais segurança durante todo o debate. Em todos as oportunidades que pôde formular as perguntas, as dirigiu a Hartung. O ex-governador, por sua vez, teve uma postura covarde. Evitou Camila e Casagrande para não ser atacado. Se valendo do recorrente discurso de que vai aos debates para discutir propostas e ideias, Hartung, na verdade, sem ter como responder aos questionamentos sobre as denúncias, usou a estratégia de ser uma candidato “civilizado” para evitar o confronto e levar a pior.
Camila novamente foi firme ao criticar tanto o peemedebista quanto o socialista. Mostrou que não está do lado de nenhum dos dois. Ela inclusive os chamou de “sócios”. Roberto Carlos, mais uma vez, teve uma participação apagada. Fez a função do coadjuvante que dá a deixa para o protagonista falar. Hartung agradeceu e pôde “usar” o petista à vontade durante todo o debate.