A movimentação dos deputados estaduais de protocolarem uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que permite a reeleição do presidente da Mesa Diretora da Assembleia foi interpretada pelos meios políticos como uma ação protecionista. A PEC, protocolada nessa quinta-feira (29), deixa a brecha para que o presidente da Casa, Theodorico Ferraço (DEM) possa ser reconduzido ao cargo em fevereiro de 2015, quando se inicia a próxima legislatura.
A articulação teve início logo depois da eleição estadual envolvendo uma parte do plenário que estaria disposta usar suas armas para conseguir criar condições de debate em pé de igualdade com o governador eleito Paulo Hartung (PMDB). Mas para os meios políticos, a continuação da manobra deve depender da ingerência do governador eleito. Para algumas lideranças, não seria surpresa se Hartung “convencesse” alguns deputados a retirarem as assinaturas do requerimento para esvaziá-lo.
O governador eleito já teria conversado com alguns deputados, mas tem buscado empurrar a discussão sobre a eleição da Mesa Diretora para o próximo ano. A ideia dos deputados é fortalecer Ferraço, como forma de transformá-lo no interlocutor da Casa, evitando que os deputados tenham novamente a mesma relação de subserviência com o Executivo, que se estabeleceu nos dois mandatos de Hartung.
A intenção seria a de mandar um recado ao novo governador de que o Legislativo não é mais o mesmo das duas gestões de Hartung. Em 2003, quando a Hartung assumiu o governo pela primeira vez, a Casa vinha desgastada por escândalos. Desta vez, como assinala o próprio texto da PEC, não há mais aquele cenário de ameaça do “crime organizado”, que justificava o veto a reeleição.
A movimentação também conta com o apoio de alguns deputados eleitos. Como o Plenário terá um perfil municipalista, em sua maioria, no próximo ano, os deputados querem garantir que a Assembleia tenha condições de ser interlocutora desse debate.
Em seus dois mandatos, Hartung ditou uma dinâmica vertical de diálogo com os deputados, muitas vezes barganhando individualmente para minar a força coletiva da instituição. Este cenário foi favorecido pelo fato de os presidentes da Casa naquele período – Claudio Vereza (PT), César Colnago (PSDB), Guerino Zanon (PMDB) e Elcio Alvares (DEM) – terem administrado a Casa com uma postura de subserviência ao Executivo.
Isso enfraqueceu os deputados na interlocução com o Executivo. Neste sentido, o nome de Ferraço não foi favorecido por acaso. A Assembleia entende que Ferraço é o único nome em condições de fazer essa interlocução com o Executivo sem ser passado para trás. Eles apostam no seu jeito imprevisível de ser, na força política que deu ao cargo de comandante da Assembleia nos últimos anos.
Os parlamentares estariam tentando evitar que a dinâmica da relação entre Executivo e Legislativo se repita na próxima legislatura.
Os demais nomes debatidos nos corredores da Casa não têm esse perfil de Ferraço. O deputado eleito Guerino Zanon (PMDB) é um dos cogitados, e sua chegada à presidência da Assembleia seria colocar à frente do Legislativo um nome que representa a voz de Hartung na Casa. A deputada Luzia Toledo (PMDB) também estaria na lista de postulantes. A deputada do PMDB tem um perfil governista, mas teria dificuldade de trânsito no Plenário. Hércules Silveira (PMDB) que reivindica o cargo, mas que não agrada Paulo Hartung.