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Poder político na religião reforça movimentos antidemocráticos

De terno e gravata, sem dar a mínima para os 29 graus registrados na quinta-feira (3.5), W.M. se apresenta como pastor de uma congregação evangélica, diz ser “antipolítico, para seguir a orientação do bispo”, mas não consegue esconder o entusiasmo quando afirma que irá votar em Jair Bolsonaro (PSL) para presidente da República e Magno Malta (PR) para o Senado nas eleições deste ano. 
Líder religioso de uma pequena comunidade dessas que são chamadas de  igreja, situada em um recanto das Grande Vitória, W.M. é um entre milhares de clérigos controlados por lideranças acomodadas em grandes empresas/igrejas ou em entidades religiosas que constituem a religião evangélica no Brasil. 
Esses núcleos usam a Bíblia como livro base de suas pregações, mas inserem doutrinas estranhas e se afastam da fé evangélica, que nada tem a ver com a religião evangélica.
 Enquanto a fé é inclusiva, revolucionária, libertária, com respeito e amor ao próximo, principalmente aos humilhados e ofendidos, a religião é individualista, egoísta e egocêntrica. A fé aponta para Cristo, a religião, para ídolos falsos e fracos que as lideram. 
O crescimento do poder político em congregações religiosas e entidades representativas de cristãos evangélicas, no Brasil e na América Latina, provoca alterações nas práticas diárias das chamadas igrejas e as afasta de ações comunitárias que as criou, transformando-as em centro de controle individualistas, autoritários e antidemocráticos.
Em 2016, no Brasil, esse cenário se expandiu, durante o processo antidemocrático contra a presidenta eleita Dilma Rousseff. Aécio Neves, Michel Temer, Eduardo Cunha, entre tantos outros, foram ungidos em nome da moralidade e dos bons costumes, com citações do texto bíblico. 
Convenceram milhares de fiéis, que hoje  amargam arrependimento, principalmente quando sentem o engano em que se meteram, que leva o país a cada dia para o mais fundo do poço. 
Esse cenário não foi o bastante para arrefecer os ânimos dessas lideranças. Neste ano, elas querem eleger 150 deputados ederais e 10 senadores, ampliando a bancada evangélica no Congresso Nacional. Esses parlasmentares atuam conjuntamente com as bancadas da Bala e do Boi, formando a BBB, totalmente alinhada ao capital especulativo e a projetos como a pena de morte  o armamento da sociedade, contrtárias à dourina cristã. Mas isso nada imoporta.
O senador Magno Malta é um claro exemplo desse tipo de atuação. Com raro senso de oportunismo, ele se movimenta por meio de ações de forte apelo popular, sempre com a bandeira em defesa das famílias.
 Nesta semana final de abril, ele tenta ganhar holofotes com a trágica morte dos irmãos Kauã e Joaquim, em Linhares, norte do Espírito Santo. Ele colocou o assunto na agenda da sua CPI os Maus Tratos, em Brasília, e certamente irá se exibir com suas conhecidas camisas cheias de frases de efeito.   
O senador, como tantos outros políticos, se articulam em torno das chamadas igrejas e entidades religiosas evangélicas, como a Convenção das Assembleias  de Deus no Estado do Espírito Santo (Cadeeso), dona de um potencial de 500 mil votos. Com nova diretoria, empossada em março deste ano, seus líderes afirmam que não irão participar das eleições de outubro.. 
Não é o que ocorre na realidade. A Cadeeso, embora tente ficar longe da política, não consegue esconder a preferência de nomes como os do ex-deputado federal Juandy Loureiro (PHS), do ex-deputado estadual Reginaldo Almeida (PSC)  e Magno Malta, entre tantos outros.  
 O livro “Fogo Estranho no Altar” (Chiado Editora, 2016), de minha autoria, aborda esse assunto: “Dentro desse cenário, abriu-se espaço para grupos ultraconservadores, que se posicionam contra governos e instituições voltadas para o combate à pobreza e tornar a sociedade mais igualitária”. 
O poder exercido por lideranças evangélicas alcança principalmente as populações pobres e desinformadas, provocando rupturas no tecido social, com grande retrocesso democrático.  O Brasil vive um período como esse, em que camadas mais desassistidas da sociedade se unem à elite abastada em defesa de projetos político-eleitorais contrários a direitos e conquistas sociais. 
“Compõem um triste retrato de ódio e intolerância contra mulheres, negros, indígenas e imigrantes, estimulando uma onda de preconceito que atinge Outras camadas da população, como os pobres e os homossexuais”. 
Seus líderes seguem a cartilha elaborada nos meandros das estratégicas geopolíticas, que colocam o Brasil e o continente Sul-Americano em espaços menores do poder mundial com suas populações escravizadas. 
Colhem os frutos de desinformação, no que se refere ao texto bíblico e, também, ao acesso a fontes confiáveis de informação, que possam contribuir para desenvolver o pensamento crítico. 
Na ausência desse canal, as pessoas se transformam em presas fáceis para  esses líderes e viram massa de manobra em uma sociedade cada vez mais embrutecida. 
São pessoas que chamam de igreja ou templo um prédio de alvenaria e não um grupo de pessoas convertidas a Cristo, no qual não existe um clero constituído por pessoas especiais, pois todos são iguais perante Deus.  E não sabem que pastor não é título ou cargo, mas um que foi feito para servir, não para usufruir.
W.M. concorda, em parte, mas ele tem que obedecer ao seu superior, debaixo da doutrina que o afasta da fé evangélica e o coloca mais fundo na religião. Esquece que Jesus acolheu os pobres e oprimidos, as prostitutas, os estrangeiros e todos os destituídos da sorte, pregou a sua palavra e morreu por eles. E que mais vale agradar a Deus do que aos homens. 
Assim agiu Jesus, que não se dobrou a César nem aos governantes hipócritas, ao contrário do que ocorre hoje na religião. No entanto, a fé evangélica, diferente da religião, se move fora dos chamados templos, em atos simples, em reuniões singelas e, principalmente, com amor e respeito ao próximo.   

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