Aos 41 anos, o advogado André Moreira, militante do movimento de Direitos Humanos, vai entrar em uma disputa eleitoral para o Senado pelo Psol. O partido não vai buscar financiamento de empresas para a campanha, não vai contratar profissionais de marketing político, e nem fazer alianças com partidos fora de seu eixo ideológico.
Uma tarefa que ele, ao lado da candidata ao governo pelo partido, Camila Valadão, vai levar para o processo eleitoral, com a identidade de quem participou dos movimentos de rua de 2013 e que milita na área muito antes das marchas de junho ou da ocupação da Assembleia Legislativa.
Nesta entrevista a Século Diário, o advogado mostra que sabe muito bem onde está se metendo. Ele faz um panorama do cenário de disputa ao governo e ao Senado para 2014 e acredita que o voto de protesto de 2010 no partido se transformou em conscientização do eleitor e pode render frutos para o Psol este ano.
Entende também a dificuldade de encontrar espaço em uma classe política conservadora e de levar um discurso de direitos humanos, sua bandeira, para o eleitorado tão conservador quanto. Mas não se intimida diante da tarefa.
Século Diário – O Psol tem candidato ao governo do Estado e ao Senado em 2014, como está esta construção?
André Moreira – Conhece partido de esquerda? (risos) A construção é um parto, mas foi boa a construção do perfil da candidatura que o partido queria, mas não havia discussão quanto à qualidade dos candidatos. Eu havia colocado meu nome ao governo anteriormente, já tinha circulado alguma coisa e tinha possibilidade também para o Senado, que são as duas candidaturas majoritárias. Aí o grupo decidiu ficar com a candidatura de Camila Valadão ao governo, porque entendeu que para a pauta do governo ela comunicaria melhor com o projeto do Psol, e como eu sou neófito, também, sou filiado desde outubro do ano passado, tenho uma pauta mais próxima à disputa ao Senado, da defesa dos direitos humanos, do Estado Republicano. Então, o partido entendeu que esta seria uma divisão boa. Porque a história de militância minha com os movimentos sociais comunicava melhor para o Senado.
– O partido também tem a candidatura do senador Randolfe Rodrigues à Presidência para trabalhar aqui no Estado, como vai ser feito isso?
– Em junho haverá a convenção do partido e aí fechando isso, haverá algumas discussões internas, mas fechando a candidatura nacional, o partido estará junto. Eu que sou mais independente dentro do partido, me coloco como observador das movimentações internas, percebo que há uma grande disposição para essa construção.
– E qual a proposta do partido para esta eleição no Estado?
– Para o Estado, o partido traz a proposta de uma inversão de prioridades. A prioridade do Estado hoje é o crescimento econômico focado nas empresas. O Estado faz isso desde a época da ditadura. Estamos na discussão dos 50 anos do golpe militar e em uma discussão que ocorreu essa semana no Ifes [Instituto Federal do Espírito Santo], houve a palestra de três professores da Ufes [Universidade Federal do Espírito Santo], que estão trabalhando esse período da ditadura, e fizeram uma leitura muito interessante desse período. O modelo político econômico da ditadura é o modelo vigente no Espírito Santo ainda hoje. Não tem diferença nenhuma, os atores são os mesmos, talvez tenham entidades representativas diferentes, partidos diferentes, mas ainda estamos falando de uma política econômica focada no empresariado, que é o mesmo que dá as cartas em um bloco político monolítico que não pode criar muitas disputas, porque no fim das contas estão gerindo o mesmo projeto político do Estado. E o Psol quer inverter essa ordem, com uma radicalização da democracia, mais participação da população nas decisões do Estado e, obviamente, uma política socioeconômica em que o peso se dê no desenvolvimento humano.
– E como seria esse foco?
– Garantia dos direitos humanos, assistência social…queremos discutir toda a pauta de direitos sociais e direitos humanos. Queremos inverter isso, inclusive do ponto de vista orçamentário. Mostrar um orçamento que signifique isso. Hoje a leitura do Orçamento do Estado diz bem o que eles querem.
– As audiências públicas são para inglês ver…
– E sem decisão. Quando falamos em radicalização da democracia, é criar espaços e canais de decisão, inclusive com alteração da Constituição do Estado, da legislação, para garantir isso que estamos falando. Toda vez que o povo quiser se manifestar, não dá para ficar três meses na rua parando tudo. Tem que haver instrumentos constitucionais da manifestação. Nós já temos alguns na Constituição e existem outros que podemos criar ou aprimorar. De uma forma geral, essa é a proposta tanto em nível estadual quanto nacional. Acho que isso se comunica bem nos dois âmbitos.
– Em 2013, o movimento que ganhou as ruas em todo País, no Espírito Santo, proporcionalmente, concentrou o maior número de pessoas. Passado aquele período, os cientistas políticos que observaram as manifestações e o pós-manifestações apontaram para o fato de elas não terem gerado uma liderança que pudesse representar aqueles anseios na eleição deste ano. Há uma tentativa, na candidatura do Psol, de se aproximar daquele movimento?
– A candidatura é fruto do movimento. Naquele momento eu estava lá, sem ter partido. Mas é uma história de participação que vem de muito tempo. Eu fui do movimento secundarista. Durante toda minha adolescência e juventude, participei do movimento secundarista. Fui diretor do DCE [Diretório Central dos Estudantes] e do Centro Acadêmico de Direito, então, fiz parte do movimento estudantil na universidade. Quando me formei, criei na OAB [Ordem dos Advogados do Brasil], a pedido do Dr. Agessandro [da Costa Pereira, ex-presidente da OAB-ES] a Comissão de Advogados em Início de Carreira, então, comecei a militar entre os advogados e fui seguindo, até chegar à presidência da Comissão de Direitos Humanos. Eu pego agora o caminho da política institucional e acho que isso tem muito a ver com o momento do Psol. O partido entendeu que, neste momento, mais do que nunca, essas bandeiras que já vínhamos sustentando sozinhos ganharam espaço. Essa lavoura, que viemos cuidando devagarzinho, recebendo críticas algumas vezes, ganhou espaço. Não tem nada que estamos defendendo hoje que já não defendíamos há 10 anos.
– Sim, mas há uma diferença deste movimento de agora do movimento estudantil tradicional. Ele tem novos elementos, como a participação das redes sociais e da horizontalidade total. Então, como se inserir nesse novo modelo de discussão e nessas novas demandas de um movimento social que ainda não tem uma cara definida?
– Acho que a vantagem é que você só tem para mostrar o que você é. Não tem mais essa história de “fulano de tal, que tem o partido tal, e vai ganhar as eleições por causa disso”. Você tem um passado que já construiu e vai mostrar para as pessoas. Se esse passado me habilita para representar o interesse do movimento, estará colocado. As pessoas não vão mais te comprar porque você é ídolo. Isso é muito bom para quem vai iniciar uma vida política, porque a gente vive uma vida política feita de caciques. O PT, por exemplo, não criou nenhuma liderança nova porque os caciques do partido continuam asfixiando as lideranças novas. É o político coqueiro, onde você planta, não nasce nada em volta. E o PT tem muitos jovens inteligentes, mas que estão dentro das correntes, abafados pelos caciques que continuam nesse jogo de poder.
– É um momento de valorização do indivíduo e não do partido…
– Esse momento abre espaço para novas lideranças que antes não poderiam aparecer em uma outra configuração. Além disso, é preciso ter muito respeito pela opinião da população. Eu sempre fui antielitista nas minhas concepções, acho que o povo tem de votar sempre, acho que essa história de que o povo não sabe votar é uma coisa que permeia toda a sociedade, abomino esse tipo de coisa. Errando ou acertando, acho que é o povo que tem de tomar as decisões e só se aprende a fazer fazendo. Acertando ou errando, não há outra forma, na perspectiva histórica de se fazer política. Então, o respeito enorme pela população vai fazer com que você se apresente e seja reconhecido.
– Mas isso aumenta a cobrança sobre aqueles que são eleitos…
– Sim, você se apresenta sabendo que hoje você pode ser representante e amanhã, não mais. Essas carreiras políticas construídas há 20, 30 anos, em que o sujeito diz pra você hoje que é de direita e depois passa a ser de esquerda, por conveniência, não cabem mais. Temos um caso clássico no Estado de um cara que saiu do PDS, da Arena, e foi eleito o primeiro governador, em 1980, pelo PMDB, como pode isso. O primeiro presidente do Brasil era um cara da Arena, que mudou de posição. Acho que esse momento tem esse desafio, de ter de se apresentar de corpo inteiro, sem maquiagem, sem nada. Mas para quem está iniciando a vida política é muito bom, principalmente para quem está iniciando sem uma grande estrutura partidária muito rica. O Psol não aceita doações de empresa.
– Mas esse é um jogo muito duro. O que se tem hoje é uma disputa que se polariza entre o governador Renato Casagrande e o ex-governador Paulo Hartung, frutos do mesmo projeto político. A unanimidade está dividida e a classe política está dividida dentro da unanimidade. Então, como buscar espaço em um cenário tão radicalizado e fechado?
– Estou apostando que tem um terceiro aí que não foi consultado nessa história. Só vai ser consultado no dia 5 de outubro.
– E como vê essa disputa de mais de uma década, especificamente, do projeto ES 2025?
– Acho que isso é o pior, porque não é só essa década. Se você fizer uma retrospectiva um pouco maior, vamos ver que se trata do mesmo modelo. É a Arena que se transformou nesse bloco monolítico, a Findes [Federação das Indústrias do Espírito Santo], que esteve vigente como elemento da construção da política durante todo o período da ditadura, se apresenta agora como Espírito Santo em Ação, mas são ainda as mesmas lideranças. A Rede Gazeta, que foi a grande expressão pública do golpe, de onde saiam as informações, onde a verdade era construída, continua do lado desse modelo de processo. As famílias que ainda comandam o Estado ainda são as mesmas e vivem do dinheiro público. Se a gente falar de Fundap [Fundo de Desenvolvimento das Atividades Portuárias], também construído durante o período da ditadura, estamos falando de algumas famílias que se beneficiaram e construíram patrimônio a custo de benefício fiscal.
– E os governos se sucedem, mantendo o privilégio dessas famílias, governando para elas…
– Se fizermos a conta do Fundap, o dinheiro quase que entrou no cofre diretamente. Você tinha a maquiagem das empresas, mas o Fundap foi transferência de renda para algumas empresas, houve empresas que vieram de fora e montaram estruturas fantasma aqui, mas movimentavam seus negócios lá fora. Temos que considerar que famílias de pessoas que sempre estiveram envolvidas com a política do Estado garantiram sua sobrevivência com base nesses financiamentos. Então esse modelo, uma hora vai fazer água. A história da ponte para a gente é muito clara, foi um arranjo interno do Espírito Santo para salvar algumas dessas famílias-empresas da concorrência externa. A concessão era da Odebrecht, que está aí até hoje. Esse arranjo manteve essas famílias por mais 15 anos, agora declaradamente com lucro ilegal de R$ 800 milhões.
– A gestão fica toda voltada para isso. Por isso não se vê os investimentos em políticas públicas, não é?
– Enquanto isso, estamos entre os estados que mais matam jovens, mulheres. Os grandes projetos vêm e não produzem melhora para a população, pelo contrário, deixam as pessoas em situação de pobreza. Eu sou ainda do tempo de São Pedro, lugar de toda pobreza, meu irmão fez uma das músicas que o Amilton de Almeida colocou no documentário. O nome da música é João Boia-fria, que fala do sujeito que saía do campo para vir para Vitória, parava em São Pedro, e tinha de disputar lixo com urubu. Estamos repetindo esse modelo. Tivemos que acabar com o mangue de São Pedro para acomodar as pessoas, não aprendemos com isso. Esse modelo vai fazer água, justamente porque existe hoje uma conscientização maior do que tinha naquele momento. Volto a insistir, ainda aposto num terceiro elemento que está caladinho, que de vez em quando mostra alguma intenção e que pode ser a grande surpresa dessa eleição.
– E no seu campo, a disputa para o Senado? Com a saída do ex-governador Paulo Hartung, parece ter ficado mais equilibrada, mas só tem uma vaga.
– O Psol teve um bom desempenho naquela eleição que eram os dois terços e, justamente, porque havia o início de um voto que era de protesto e houve a canalização para o Psol, mas quando você diz que é voto de protesto, parece que diminui o voto, não é só isso. Às vezes, na história do voto útil, o sujeito acha que não é o voto que vai ganhar, mas ele está dizendo o seguinte: 'não vou deixar de dar o meu segundo voto, não. Quero dizer que é nesse modelo que, quando der, eu vou votar'. Esta é uma eleição mais complicada. A Gazeta já decidiu quem é o candidato dela. Sempre que há acidente, ele aparece dizendo que tem de aumentar a pena para crime de trânsito. Não é que a gente ache que as pessoas têm de morrer no trânsito mas, na verdade, trabalhamos em um processo mais profundo. No sentido de dizer que o crime de trânsito é o sintoma de um processo muito maior, um processo que aplica dinheiro em um processo de individualização do trânsito, em vez de investir no transporte coletivo. Quando se coloca mais de 100 mil carros na rua, estamos aumentando em tanto por cento o índice de crime de trânsito. É um processo que só ganha montadora e políticos que acham que vão ganhar voto com esse discurso da pena. Qual a nossa perspectiva em um processo desse, sabendo que ainda existem currais eleitorais, o abuso do poder econômico? Esperamos, inclusive, que o STF [Supremo Tribunal Federal] julgue a questão do financiamento de campanha, porque isso nos dá uma outra perspectiva.
– Mas aí tem até 10 de junho para fazer alteração para esta eleição.
– Não, na ação que está no Supremo, pode julgar a qualquer momento, pode até respeitar o que foi captado até o momento do julgamento, mas é uma ação de controle concentrado pode valer daqui pra frente ou para trás, diferente de uma lei eleitoral, que aí teríamos o princípio da anterioridade.
– Isso deixaria o jogo bem mais equilibrado.
– De qualquer forma, não estamos vendendo candidatos, que é a prática da eleição tradicional. Se nós quiséssemos vender candidatos, não teríamos colocado dois negros na disputa majoritária. Espírito Santo não tem essa tradição, tivemos um governador negro que era pichado porque era negro. A nossa tentativa é fazer uma comunicação com o público muito clara e direta e sem deixar de tocar nos pontos que são nefrálgicos,. Não vamos fazer concessão neste aspecto para ter votos. Também esperamos que o processo eleitoral seja um processo de educação do próprio eleitor. Vai votar naquele que tem por trás Magno Malta [PR], que a gente já conhece, que explora essa coisa maioridade penal, quer dizer, um cara que trabalha contra os direitos humanos, trabalha contra a ampliação dos direitos das pessoas, como se isso fosse responsável pela violência, quando o responsável pela violência é a pobreza e aí, em condição de limite, vai haver violência. Mas também há outros fatores para a violência: por que há tanta violência contra a mulher no Estado? Então, as pessoas vão ter de decidir e, do nosso ponto de vista, vão ter uma campanha sem maquiagem, sem marketing eleitoral.
– O Psol já tomou a decisão sobre as candidaturas há mais de um mês. Foi logo depois das primeiras pesquisas e esperávamos que nas seguintes aparecessem os nomes, mas não apareceram sequer nas estimuladas…
– Pois é, aí fica difícil, né? A resposta que recebemos de A Gazeta e da Futura é de que eles não têm obrigação de colocar os nomes, eles podem escolher os nomes neste momento e que, na perspectiva das duas empresas, são esses os nomes que estão colocados. Então, posso fazer uma pesquisa só como o meu nome, não é? Isso é mais uma daquelas tentativas de conduzir o processo e de abusar do poder econômico, do uso de uma mídia que é importante. Temos de ter sempre cuidado para não cair nesses golpes eleitorais silenciosos. Lembramos bem do que a Globo fez com aquela eleição de Lula e Collor em 1989, a maior fraude eleitoral, com a edição do jornal.
– E onde o Psol vai buscar essa comunicação? Nas redes sociais?
– Redes sociais. Isso vai ser o grande desafio, internamente, para o Psol. Como conseguir comunicar um projeto que, se chegar ao eleitor, vamos ter uma resposta boa. Como conseguir fazer essa comunicação sem uma injeção enorme de dinheiro, sem o apoio das mídias tracionais. Estamos pensando nisso, conversando com a direção do partido. Eu tenho a experiência da eleição da Ordem. Tenho uma visão do que é possível fazer, mas temos que conversar com a direção do partido. É criar novas vias, efetivamente, não são as tradicionais.
– Em 2010, o governador Renato Casagrande teve um gasto de campanha de R$ 9,4 milhões. O adversário dele, o ex-prefeito de Vitória Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB), teve um gasto de R$ 5,4 milhões. Não podemos contar com o fim das doações de campanha porque não sabemos o que vai acontecer. Então, é uma luta de Davi contra Golias.
– Mas o Davi estava lá, quem sabe a gente dá a pedrada no lugar certo. Sabemos dessa dificuldade toda. Mas vou falar de uma experiência minha. Disputei a eleição da Ordem em 2009, como candidato minoritário, disputando com dois outros grupos: o grupo que tinha o apoio de Agessandro, que era o anterior; e o grupo que tinha o apoio do Antônio Genelhu, que era o presidente da Ordem naquele momento. Atingi 16% dos votos e avaliava que perdi a eleição, hoje, avalio que aquela eleição foi ganha. Nós ganhamos aquela eleição porque construímos um projeto. Se a eleição fosse hoje, não teria mais as mesmas dificuldades, mesmo sendo minoritário, minha campanha sempre foi com a ajuda dos colegas.
– A campanha será com doações pessoais? Não terá financiamento de empresas?
– E o que estamos pensando em construir? Doação de pessoas. No meio do caminho já teremos uma noção de como nossa penetração no público vai acontecer. Porque é muito complicado vir com doação de empresa. Dessa conta de mais de R$ 9 milhões, R$ 1 milhão era do consórcio Rodosol. Você acha que não vai ter cobrança depois? E a gente sabe muito bem que saía desse sobrelucro. É um sistema sustentável, como eles gostam de dizer, sustentabilidade política. 'Você não precisa me dar dinheiro porque eu deixo você tirar desse projeto aqui'. Por isso acredito que as pessoas estão um pouco mais perceptivas de que esse processo pode terminar. É a nossa função como partido, pequeno e de esquerda, ainda porque eu sei que o Psol vai crescer muito nestes anos que virão,mostrando para as pessoas que tem história e proposta para essa mudança.
– Como aproximar o presidenciável do Psol do Estado? A presidente Dilma tem uma visibilidade até pelo mandato; o senador Aécio Neves (PSDB), pela oposição histórica ao PT, também acaba tendo visibilidade; Eduardo Campos tem uma identidade partidária com o governador Renato Casagrande, que lhe garante o espaço. Randolfe parece estar mais distante.
– Randolfe foi considerado o melhor senador da atual legislatura e essa história não tem muita diferença. Com o pouco tempo e existência do Psol, essas pessoas ganharam notoriedade nacional. Randolfe é um defensor dos direitos humanos em todas as áreas. Essa qualidade das figuras que estão relacionadas como Psol é a marca da campanha que vamos apresentar para o eleitor em todos os níveis, como opção. Não diga que não votou por falta de opção. Isso é importante deixar muito marcado. O Randolfe tem uma trajetória pública muito tranquila para ser defendida. Tem por trás dele pessoas de expressão, como Marcelo Freixo, Chico Alencar e Luciana Genro. E aqui temos as figuras locais que vão continuar defendendo essas candidaturas.
– Falamos do conservadorismo da classe política, mas o eleitorado capixaba também é extremamente conservador. Pra levar esse discurso de defesa dos direitos humanos, minorias, também haverá uma dificuldade muito grande, não é?
– Nenhuma maior das que vimos tratando nos últimos 10 anos. Se esse o nosso problema, é ele. Já o conhecemos, já sabemos como enfrentá-lo, nunca fizemos concessões, nem naquelas matérias que… às vezes os direitos humanos entram em algumas enrascadas, sabe! Dez anos depois você vai ver que não era bem aquilo. Paulo Hartung foi essa construção. Aquela construção de 2002, de reconstrução, de quem não está comigo está contra o Espírito Santo, foi construído dentro do movimento social, que era o Reage Espírito Santo.
– A OAB-ES estava junto…
– A OAB estava, eu era advogado em início de carreira e vi Paulo Hartung, senador, sentadinho na escada da OAB, disputando esse espaço. Depois a gente para e pensa, valeu a pena aquela construção de unanimidade? Será que o remédio não matou mais o paciente que a doença? Ou será que o remédio não trazia a mesma doença? Volto a repetir, esse processo não é diferente do que vivemos na ditadura, são outros atores. A geopolítica, como Paulo Hartung sempre se coloca como o grande mentor no Estado, foi o que ele aprendeu de dentro do MDB olhando a Arena trabalhar. Era dentro da Arena que se discutia quem seria o próximo governador biônico, quem eram os próximos eleitos e o MDB ficava com a sobra, o que caía da mesa. Hartung foi inteligente o suficiente para se destacar dentro do MDB, quando você teve um sujeito ético o bastante para se destacar, que foi o Max Mauro.
Se destacou também naquele período. Mas o de fato, o que a gente vive hoje, é a substituição da Arena por esse bloco monolítico do consenso e algumas figuras que tentam surfar em uma suposta oposição ou neutralidade. Mas estão todos gerindo carreiras políticas e não gerindo o Estado. Por isso não existe projeto para o Estado, o projeto que tem Paulo Hartung e que tem Casagrande é o mesmo. Eu tenho a impressão que essa discussão é para saber quem vai receber o dinheiro do Espírito Santo em Ação. Quem se mostrar melhor como pré-candidato, vai ficar com a maior parcela do bolo e vai se eleger. É como se eles estivessem disputando a eleição agora e que o voto do eleitor fosse apenas um detalhe. Estou contando que o eleitor vai dar um sinal de que não é isso que vai acontecer.