Renata Oliveira e Nerter Samora
Renata – Pois é. Podemos observar muitas causas para essa opacidade que de repente tomou conta do cenário e já falamos sobre algumas delas, como a movimentação nacional e o fator “MM” (Magno Malta). Mas tem outras coisas também. Essa questão dos royalties, por exemplo, é uma incógnita. Por enquanto o eleitorado está colocando na conta do Congresso Nacional o ônus pelas perdas. Mas se esse cenário desolador realmente se concretizar no Estado, se ficarem acirrados os ânimos entre os municípios que vão perder e os que vão ganhar, a capacidade de mediador do governador Renato Casagrande será testada.
Nerter – Hoje os prefeitos já vem reclamando da falta de recursos, reflexo das perdas com o Fundo de Desenvolvimento das Atividades Portuárias (Fundap). Esse rombo deve aumentar quando se efetivar o corte dos royalties. Para o próximo dia 19 está marcada a disputa pelo Fundo de Participação dos Estados (FPE) no Congresso Nacional e o Estado tenta resolver também o imbróglio do ICMS, ou seja, mais perdas vêm pela frente. Como o governo e, principalmente as prefeituras têm muita dificuldade em apresentar projetos para a captação de recursos para investimentos, vai faltar dinheiro, não tenha dúvida, e isso vai acabar refletindo, sim, no palanque de Casagrande.
Renata – Sem falar nessa história de fazer um corte reto nos projetos de R$ 400 milhões para custeio e investimentos, mas os incentivos fiscais aos empreendimentos em atividade no Estado, que muitas vezes trazem mais problemas que benefícios, estão mantidos. Não dá para saber qual o impacto que as contrapartidas das grandes empresas poderiam trazer para a econômica capixaba, já que isso é uma caixa preta que ninguém tem coragem de abrir. O corte de investimentos vai trazer problemas para a imagem e não se sabe até quando essa imagem de vítima do Congresso vai durar.
Nerter – Só o Fundo de Redução das Desigualdades Regionais vai ter seu orçamento diminuído em R$ 30 milhões. Quanto aos incentivos, o governo diz que não descarta cortar, mas por enquanto está tudo mantido. Isso vai abrir uma brecha para a choradeira dos municípios. Os prefeitos que estão iniciando seus mandatos e que foram eleitos com o apoio do Palácio Anchieta vão cobrar uma ajuda, que não se sabe se o governo terá pernas para dar.
Renata – Nesta questão dos prefeitos, aliás, cabe uma análise mais profunda. O desempenho dos novos gestores, sobretudo aqueles ligados ao governador Renato Casagrande, vai ser fundamental para a sustentação do palanque do socialista. Se os prefeitos não conseguirem dar as respostas necessária à população, principalmente os que foram eleitos com o discurso da mudança, vão querer um suporte do governo do Estado e as procissões de prefeitos ao Palácio Anchieta vão durar o ano todo. Todos com pires na mão.
Nerter – Outro problema para Renato Casagrande é o fortalecimento do grupo do ex-governador Paulo Hartung. A soltura e absolvição midiática dos ex-prefeitos envolvidos no escândalo que resultou na Operação Derrama tiraram o arranhão da imagem de Hartung, já que todos os presos eram aliados do ex-governador, inclusive peemedebistas muito ligados ao ex-governador, como o ex-prefeito de Linhares, Guerino Zanon.
Renata – Aliada a isso, a reeleição de Theodorico Ferraço (DEM), mais novo amigo de infância de Hartung, para a presidência da Assembleia e sua mais que confortável situação perante o procurador-geral de Justiça, Eder Pontes, também fortalecem o grupo do ex-governador. Hartung tem pelas mãos de Ferraço o controle das movimentações políticas para o próximo ano, o que o recoloca na mesa do xadrez eleitoral. O ex-governador que havia perdido o lugar com a derrota acachapante na disputa municipal do ano passado, agora conseguiu se reerguer e complica a vida de Renato Casagrande.
Nerter – Mas isso não significa que o governador está fora do jogo, afinal Hartung tem uma verdadeira ojeriza da possibilidade de ter Magno Malta pela frente em um processo eleitoral. O que acontece é que Casagrande fica dependente do grupo de Hartung.
Renata – A entrada do Magno na disputa pode representar um possível duelo entre o senador e as elites capixabas. De um lado, o senador populista que nunca precisou das elites para se eleger; do outro, o ex-governador que pode novamente ficar ao lado de Casagrande.
Nerter – Certamente será uma batalho e tanto!

