
Estudantes e militantes de movimentos sociais no Estado se reuniram na manhã desta quinta-feira (20) para a VII Marcha contra o Extermínio da Juventude Negra, promovida pelo Fórum Estadual da Juventude Negra (Fejunes). O ato teve início na Avenida Jerônimo Monteiro, no Centro de Vitória, e fez uma parada em frente ao Palácio Anchieta, sede do governo do Estado, terminando em frente ao Museu Capixaba do Negro.
A atividade é realizada anualmente para marcar o Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro. Durante a marcha, os participantes denunciaram o racismo ainda presente no cotidiano dos jovens negros do Estado. No Palácio Anchieta, os participantes fincaram cruzes em memória dos jovens assassinados no Estado.

Estudantes de diversas escolas de ensino fundamental e médio do Estado participaram da marcha. Uma das escolas representadas foi a Unidade Municipal de Ensino Fundamental (Umefti) Macionília Maurício Bueno, do bairro Ilha das Flores, que sempre participa do ato.
A aluna do 9º ano da unidade, Gabriela Gonçalves, conta que os professores explicam, em sala de aula, sobre a importância da data e da atividade. “Se não fosse pela escola, eu viria do mesmo jeito”, diz ela, acrescentando que no bairro em que ela mora, Ilha das Flores, também há reuniões de movimentos sociais.
A professora de Gabriela, Carine Pazini, afirma que na escola é trabalhada, a partir do dia 20 de novembro, a Semana da Consciência Negra com os alunos. Ela explica que há uma professora na unidade, ativista do movimento negro, que pauta a temática com frequência nas aulas. O conteúdo é trabalhado de maneira multidisciplinar, com a participação de toda a escola.
A professora lamenta, no entanto, a falta de apoio da rede municipal de ensino de Vila Velha. “A rede exige que se trabalhe a Lei 10.639/96, mas não acompanha o que vem sendo feito”, salienta Carine. Esta lei torna obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares.
Carine ressalta que a escola se tornou referência em trabalhos que promovem a consciência e combatem racismo, que chegaram a ser apresentados fora do Estado. No entanto, a educadora aponta que é preciso que mais professores militem e incentivem as boas práticas, já que a iniciativa da política pública não existe.
A presença dos alunos na atividade, inclusive, dependeu da ajuda de pessoas de fora da comunidade escolar. O ônibus que levou os alunos foi cedido pelos movimentos sociais que apoiam a marcha. “Os professores sofrem pressão ao participarem, já que muitos acham que participar do ato é fugir da sala de aula”, conta ela. Após participarem da marcha, os alunos devem produzir trabalhos ao longo da Semana da Consciência Negra na escola.
Extermínio
O tema da Marcha contra o Extermínio da Juventude Negra de 2014 teve o tema “Parem de nos matar”, denunciando a ação ou omissão do Estado diante do extermínio da juventude negra.
De acordo com o Mapa da Violência 2014 – os Jovens do Brasil, os homicídios são hoje a principal causa de morte de jovens de 15 a 29 anos no Brasil e atingem especialmente jovens negros do sexo masculino, moradores das periferias e áreas metropolitanas dos centros urbanos.
Se no País a maioria dos jovens mortos é jovem, no Estado a realidade é ainda mais impressionante. Em 2012 (ano base para o estudo), foram vítimas de homicídio do Estado 981 jovens. Destes, 892 eram negros, o que corresponde a 90,2% dos homicídios naquele ano. A taxa de homicídios de jovens negros em 2012 foi de 155 mortes violentas por grupo de 100 mil habitantes, índice de guerra civil. No mesmo ano, a taxa de homicídios de jovens brancos foi de 23,6 por 100 mil.