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Animais mortos, água com coloração escura e odor em Jacaraípe

Tartarugas, siris e peixes apareceram no encontro das águas de lagoas com o mar

Os pescadores de Jacaraípe, na Serra, foram surpreendidos, nessa quinta-feira (12) e nesta sexta (13), com muitos animais mortos nas proximidades da praça Encontro das Águas, incluindo diversas espécies de peixes, como robalo e tainha, siris e tartarugas. Os animais apareceram boiando nas águas que vêm das lagoas Juara e Jacuné e seguem rumo ao mar. Além disso, as águas estavam verdes e com mau cheiro.

O pescador André Luiz da Silva manifestou preocupação com a situação e afirmou que não é possível saber de qual lagoa estão vindo os animais mortos. “Deve ser falta de oxigênio ou algum poluente. Tem que fazer análise para saber se tem algum produto químico na água. Isso não é só aqui, tem acontecido em outros lugares, como no Rio Santa Maria”, diz André, referindo-se às recentes denúncias de surgimento de animais mortos nesse rio.

A Organização Não Governamental (ONG) Juntos SOS Ambiental formalizou denúncia no Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema). O presidente da entidade, Eraylton Moreschi, acredita que as águas podem ter sido contaminadas devido à construção de um condomínio próximo à lagoa Juara. Aponta, também, que existem vias vicinais na Serra nas quais foi utilizado Revsol, coproduto de escória ciaria utilizada para fazer asfalto. No caso do Rio Santa Maria, há suspeitas de que as mortes dos animais tenham sido causadas por esse produto.

Procurada por Século Diário, a Prefeitura da Serra respondeu que as equipes da Fiscalização Ambiental e do Departamento de Saneamento Ambiental estiveram no local para análise da situação e investigação da causa da morte dos animais. “As amostras recolhidas indicam baixa presença de oxigênio na água do manancial, o que provocou a mortandade dos peixes e animais aquáticos. A causa dessa baixa oxigenação será investigada pelos técnicos ao longo da próxima semana”, diz, mas sem detalhar se a baixa oxigenação pode ter causado também a mudança na coloração da água e o odor.

Pesquisa e extensão

A Juntos SOS Espírito Santo Ambiental encaminhou notícia de fato para a ArcelorMittal, requerendo o financiamento de um projeto de pesquisa e extensão, com o objetivo de mensurar os impactos dos produtos Revsol com amostras fornecidas pela ArcelorMittal e também coletadas no aterro das margens do rio Santa Maria da Vitória.

O valor estimado do projeto de pesquisa, que teria duração de dois anos, segundo a ONG, é de R$ 108,3 mil. A Juntos-SOS também solicitou ao diretor-presidente do Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema), Mario Louzada, que informe e forneça cópias de todas as documentações técnicas, análises e exames que fundamentam a afirmação que fez na imprensa capixaba de que os aterros com produtos siderúrgicos da ArcelorMittal não são responsáveis pela morte dos peixes.

O número elevado de animais mortos no rio Santa Maria começou a ganhar repercussão no dia 20 de agosto, com vídeos e fotos tiradas por pescadores, publicadas nas redes sociais. Esses trabalhadores atribuem a situação à construção, nos últimos anos, de aterros ao longo da BR-101 para a instalação de empresas, tendo em vista que os rios Bubu e Santa Maria ficam às margens da rodovia.

“Esses aterros teriam a utilização de Revsol, um composto produzido pela empresa ArcelorMittal Tubarão para ser aplicado em vias urbanas e rurais e outros tipos de terreno. Os pescadores têm notado que, principalmente quando a maré enche, os produtos químicos escorrem para os rios, o que pode ser a causa da contaminação”, diz a ONG.

A Juntos relata que pescadores coletaram amostras do material do aterro, colocaram junto a peixes da espécie tainha e, ao comparar com outros da mesma espécie que não tiveram contato com o material, percebeu-se que os que tiveram acesso ao produto químico morreram após 40 minutos. “Embora o teste não tenha sido realizado por pessoas certificadas e conforme protocolos específicos, este é um fato robusto que fundamenta o requerimento da Juntos à ArcelorMittal, de que custeie imediatamente testes oficiais para verificação do nexo de causalidade entre seus produtos e a morte de peixes”, cobra.

A situação, salienta a Juntos-SOS, é um risco para a saúde das pessoas, e causa prejuízo aos pescadores e ao meio ambiente. “De modo que, pelo princípio da precaução, o fornecedor de produtos e poluidor deve proceder a uma investigação imediata das ocorrências, independente das providências que devem ser tomadas pelos poderes públicos”.

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