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Papo de RepórterUma eleição para decidir o rumo do Espírito Santo

Rogério Medeiros e Nerter Samora

Numa semana de pouca movimentação nas dos principais candidatos ao Palácio Anchieta, as atenções se voltaram para a renúncia do delegado Fabiano Contarato, a “virada de casaca” do senador Ricardo Ferraço e as decisões da Justiça – o ex-governador Paulo Hartung conseguiu retirar do ar duas matérias (do ES Hoje e do Blog do Elimar Côrtes) sobre negociata com imóvel de luxo e deu início a uma disputa que pode render novas queixas na Justiça Eleitoral. O Papo de Repórter desta semana relembra os casos relacionados ao peemedebista, além de fazer um prognóstico de uma eleição que promete ser decisiva em relação ao desenho futuro da classe política capixaba.

Nerter: A primeira semana da corrida eleitoral no Estado foi bem morna. Desistências de candidaturas e reviravoltas de apoios à parte, digo isso em relação ao gesto público do senador Ricardo Ferraço (DEM) em relação ao apoio ao governador Renato Casagrande, o clima de campanha ainda não começou. Pelo menos, em relação aos tradicionais corpo a corpo junto ao eleitoral. Já nos bastidores teve início o movimento de judicialização das eleições com o ex-governador Paulo Hartung (PMDB), obtendo a retirada de matérias do ar em dois veículos – o jornal ES Hoje e o blog do jornalista Elimar Côrtes – com suspeitas contra ele.

Rogério: Nerter, que coisa escabrosa. O Paulo pode tudo. Enquanto o povo que manda no tribunal, já que eu não quero generalizar, uma vez que tem gente boa no TRE-ES, continuar protegendo o ex-governador… Eles estão entrando em um caminho sem fim, se você for pegar os processos que o Paulo estava envolvido, tiraram ele de todos os casos. Se você pegar o caso do Posto Fantasma… É incrível, não caiu nada nas costas dele . Porque a corrupção do Paulo não se limita ao Posto Fantasma, nem apartamento de luxo, tem muita coisa que vai aparecer… O escândalo de Presidente Kennedy, por exemplo. Onde vai parar esse tribunal? O jornal ES Hoje e o blog do Elimar noticiaram um fato que existe. Mas a decisão simplesmente dá uma certidão de inocência ao ex-governador…

Nerter: Entrei neste assunto com certo cuidado, mas você já entrou de sola…

Rogério: É porque o tribunal que está aí é o que vai eleger Paulo Hartung. Blindado ele nos casos que falei acima…

Nerter: Concordo. Basta puxar na memória. Hartung já ganhou uma eleição, a de 2002, quando disputou contra o ex-governador Max Mauro. O adversário fazia uma denúncia contra Hartung, então senador da República, e no outro dia, tinha um direito de resposta. Isso aconteceu a eleição inteira.

Rogério: Quem está no comando do TRE é um homem com ligações profundas com o ex-governador, o desembargador Álvaro Bourguignon. É só você levantar a ligação dos dois na ocasião da Operação Naufrágio. Naquela ocasião, Hartung com governador do Estado e Bourguignon como presidente interino do Tribunal de Justiça estavam juntos em Brasília para apagar o incêndio. Outro dia estava rindo com uma notícia que foi publicada sobre a impugnação do homem de confiança do Paulo, o deputado federal Lelo Coimbra (PMDB). Claro que com esse TRE ele é candidatíssimo. Essa ficha suja dele começou na própria gestão do ex-governador, mas isso não o impediu que ele fosse eleito em 2010, imagine agora neste pleito, não preciso mais falar. E a imprensa fica gastando papel à toa com coisas dessa natureza.

Nerter: Voltando ao caso do apartamento de luxo negociado pelo ex-governador. O Paulo conseguiu uma decisão liminar para retirar as matérias do ar, muito embora fossem corretas. Ele não comprou e vendeu um apartamento? Vendeu no mesmo dia por R$ 2,1 milhões que escriturou por R$ 48 mil. Está registrado no cartório. Então vem a Justiça e tira do ar as matérias que retratam um fato. Isso é uma violência. Ao mesmo tempo, a defesa do ex-governador tergiversa sobre a eventual posição do Ministério Público Federal, de que a notícia da venda do apartamento seria falsa. Tese devidamente desmentida pela reportagem de Século Diário, mas que foi suficiente para a retirada do material do ar.

Rogério: Essa decisão do tribunal de nao dar o direito de resposta a Hartung solucionou outro problema para a defesa do ex-governador. Porque no direito de resposta, ele teria de explicar o que houve. A coisa é tão perfeita. Ele não teria como responder as acusações. É tão interesse isso que ele montou uma banca de advocacia com os chamados grandes juristas, que é o Santoro e Herkenhoff – que de fato são ótimos juristas. Quer dizer, ele quer ganhar a eleição abafando as roubalheiras dele. Com a melhor banca de advogados e com a melhor relação junto ao TRE. Rapaz onde é que vamos parar? Aliás, o Herkenhoff quando era procurador da República no Espírito Santo e a Polícia Federal estava fazendo umas gravações na casa da Praia do Canto, quando soube quem estava sendo gravado, ele foi lá e pegou as gravações. Até hoje ninguém sabe onde estão essas gravações. Ele e o Santoro que armaram as escutas contra José Ignácio, na época da missão especial. Hoje eles estão aí fazem parte do bando de Paulo Hartung. Esse é o Espírito Santo do Paulo Hartung, gente! Agora querem elegê-lo de qualquer maneira. Já que para fazê-lo governador os escândalos precisam ser abafados. Eu quero ver o que o TRE vai fazer com o que vem pela frente…

Nerter: O acompanhamento diário das questões Judiciário me permitiu conhecer alguns casos pendentes em relação a Hartung. Como por exemplo, os casos dos benefícios fiscais do Sincades, questionados aqui e em Brasília, você tem a ação de improbidade sobre o Posto Fantasma, que o MP já recorreu contra a absolvição do Paulo e seus auxiliares. Tem ainda a investigação sobre o suposto tráfico de influência na cessão de uma área para a EDP Escelsa em Vila Velha. O Ministério Público abriu um procedimento para apurar se existe relação entre a eventual “doação”, uma vez que o terreno foi vendido muito abaixo do preço de mercado, e a nomeação de Hartung para o cargo de conselheiro na mesma empresa.

Rogério: Você citou o caso do Posto Fantasma. Imagina, cara. Absolvição de quê? Esse é um escândalo sem precedente, prometeram construir um posto fiscal, gastaram R$ 25 milhões, e só espalharam terra no chão. As inovações em tecnologia já havia tornado a construção desse tipo de posto obsoleta. Aí surgem as “coincidências”: a empresa envolvida na construção do posto era uma das financiadoras de campanha dele. Só isso… à luz do dia. E não acontece nada.

Nerter: Eu só sei que até hoje ninguém explicou para onde foram os R$ 25 milhões gastos ali. Tem uma coisa interessante nesse caso. Quem denunciou o escândalo, foi lá fez foto, mostrou que não havia nada. Estou me referindo ao deputado Euclério Sampaio (PDT). A Assembleia chegou até a ensaiar a abertura de uma CPI, mas nada foi feito e o caso esquecido. Até mesmo o deputado Euclério se esqueceu do posto, passou a frequentar a prefeitura de Vila Velha, que está nas mãos do prefeito Rodney Miranda (DEM) – produto político de Hartung – e entrou no processo da Terceira Ponte/Rodosol para livrar a cara do Paulo. Digo isso porque o deputado, que tenta a todo custo tirar dividendos políticos da mobilização das ruas, nunca citou os aditivos feitos por Hartung no contrato de concessão que isentou a Rodosol de fazer obras previstas inicialmente, como a construção do Canal Bigossi. Esse operação custou milhões de reais ao Estado e aos usuários da ponte, já que o pedágio ficou supostamente congelado em patamares elevadíssimos, quase o dobro do que era pago até pouco tempo atrás…

Rogério: Você quer falar do Euclério? Ele até hoje não consegue explicar a sua aposentadoria precoce na Polícia Civil. Deixa Euclério de lado, hoje ele é um hartunguete de carteirinha. E não é a primeira vez que ele presta serviço ao Paulo. E o relatório da CPI do Grampo, que ele não apresentou no último dia de legislatura? Eles armaram a desculpa da falta de quórum para não votar e nunca mais se falou nisso. Depois a Assembleia resolveu mandar os anais para o Ministério Público para apurar o sumiço de documentos. Hoje, a CPI repousa em uma gaveta. Mas esqueça Euclério. Essa é uma eleição que vai decidir o destino do Espírito Santo, essa é a realidade. Paulo Hartung precisando se livrar dos escândalos do seu governo usando o TRE, como acaba de usar. Isso não é eleição.

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